domingo, 18 de dezembro de 2011

As pessoas que alcançam

     Imam Al-Ghazali relata uma tradição da vida de Isa, Ibn Maryam.
     Um dia, Isa viu algumas pessoas desoladas sentadas num muro à beira da estrada.
     Ele perguntou: "Qual o motivo de sua aflição?"
     Elas responderam: "Nós nos tornamos assim por temer o Inferno."
     Isa seguiu seu caminho e viu um grupo de pessoas desconsoladas em diversas posturas ao lado da estrada. Ele perguntou: "Qual é o motivo da sua aflição? "
     Elas responderam: "O desejo do Paraiso nos deixou assim."
     Isa seguiu se caminho até que encontrou um terceiro grupo. Pareciam pessoas que haviam atravessado muitas dificuldades, mas seu rosto brilhava de alegria.
     Ele perguntou: "O que as deixou assim?"
     Elas responderam: "O Espírito da Verdade. Vimos a Realidade, e isso nos fez indiferentes a metas menores."
     Isa disse: "Essas são as pessoas que alcançam. No Dia da Prestação de Contas, são elas que estarão na Presença de Deus."



     Os que acreditam que o desenvolvimento espiritual depende exclusivamente do cultivo das ideias de recompensa e castigo, com frequência se surpreendem com essa tradição sufi sobre Jesus.
     Os sufis dizem que somente certas pessoas se beneficiam de uma dinâmica intensa entre perdas e ganhos, e que isso, por sua vez, constituí apenas uma parte das experiências de qualquer pessoa. Aqueles que estudaram os métodos e efeitos do condicionamento e da doutrinação podem se sentir inclinados a concordar com os sufis.
     Religiosos fervorosos e formais, obviamente, não admitem, em muitas crenças, que as simples alternativas de bom-mau, tensão-relaxamento, recompensa-punição, sejam apenas partes de um sistema mais amplo de autorrealização.

SHAH, Idries. Histórias dos Dervixes. Ed. Filosofia Viva

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