segunda-feira, 27 de maio de 2013

Florbela Espanca

Mistério

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!


Florbela Espanca

quinta-feira, 23 de maio de 2013

René Lalique - Papoula

René Lalique,Pavot,© ADAGP - RMN-Grand Palais (Musée d'Orsay) / René-Gabriel Ojéda
René Lalique (1860-1945)
Pavot
1897
Or, argent, diamants brillantés, émail cloisonné et à jour, translucide mat et opaque brillant
H. 7 ; L. 23,5 ; P. 10,5 cm
Musée d'Orsay



Precioso, leve, divino!

















quarta-feira, 22 de maio de 2013

KLIMT, Gustav - O Frizo de Beethoven

 O friso de Beethoven é uma obra feita por G. Klimt para homenagear Beethoven, considerado o símbolo do artista herói. É uma alegoria sobre a busca da felicidade e divide-se em três painéis: As forças inimigas, A aspiração à felicidade e Alegria, nobre centelha divina. 
Baseada na interpretação que Richard Wagner fez da Nona Sinfonia de Beethoven, a obra pode pode ser vista em Viena, no Palácio do Belvedere Superior. 
A obra final, abaixo, representa o ser humano encontrando o amor puro, simbolizado no beijo final.




Alegria, nobre centelha divina
Coleção Folha, Grandes Mestres da Pintura

sábado, 18 de maio de 2013

André le Nôtre Paisagismo

Numa escala macro o jardim de Versailles se estrutura através de grandes eixos retilíneos onde se distribuem  parterres, espelhos d’água, elementos arquitetônicos. O eixo central atinge cerca de 14 km de comprimento e permite uma visão ampla do território. Esta experiência do olhar que alcança o horizonte longínquo está na base do eixo visual, o mecanismo fundamental de ordenação do conjunto de Versalhes e de muitos outros da arquitetura barroca. Ela se incorporará como um dos mecanismos de ordenação compositiva mais fundamentais da Ecole de Beaux Arts cujas origens remontam precisamente ao reinado de Luis XIV.
O-jardim-de-Versalhes
Numa escala micro, o jardim apresenta uma cenografia arquitetônica e vegetal obcecada pelo detalhe e voltada ao deleite e à provisão de acontecimentos para os convidados do rei (cenas de teatro, terraços, fontes, conjuntos de estátuas, labirinto, espelhos d’água).
jardim-versailles
jardim-tropical-versalles


Extraído de:

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O jovem que não conhecia o medo



Certo dia, uma mulher e seu filho tomavam ar fresco ao cair da tarde, sentados no pátio de sua casa. A casa ficava muito distante do povoado, e quando o sol se pôs e a escuridão da noite envolveu tudo em suas sombras, a mulher disse ao jovem:- Meu filho, vá e feche a porta, pois estou com medo.
- O que é o medo? – Perguntou o rapaz.
- Ora sentir temor – ela respondeu.
Mas a resposta de sua mãe não deixou o jovem satisfeito.
- Não sei o que você quer dizer, mãe. Tenho que experimentar o medo. Vou dar um passeio.
E sem prestar muita atenção aos protestos de sua mãe, adentrou-se na noite, afastando-se da casa. Caminhou até o sopé de uma montanha, onde mais de trinta ladrões se encontravam sentados em volta de uma grande fogueira. O jovem aproximou-se deles e um dos bandidos, que parecia ser o capitão, falou:
- Nem mesmo um pássaro se aventura a voar para esses lados, e nenhuma caravana cruza este caminho. Como você se atreve a aproximar-se de nós?
- Pretendo conhecer o medo. Mostrem-no a mim.
- O medo está aqui, conosco – disse o ladrão.
- Onde? – Perguntou o rapaz.
Então, o ladrão respondeu:
- Pegue este pote, farinha, manteiga e açúcar. Entre nesse cemitério e celebre uma festa com os defuntos.
- Assim farei – respondeu o jovem.
No cemitério acendeu uma fogueira e começou a misturar a farinha, a manteiga e o açúcar. Quando havia terminado, uma enorme mão saiu da terra e fez-se ouvir uma voz:
- Quem é o atrevido?
O rapaz golpeou a mão com sua colher e respondeu:
- Eu que vim celebrar minha festa com os mortos. Volte para onde está teu pé. Agora desapareça!
Ao ouvir esta ofensa, a mão desapareceu e o rapaz, que terminara sua mistura, voltou para perto dos ladrões.
- Então, conheceste o medo? – Perguntaram os ladrões entre risadas.
- Não. Houve apenas uma mão que saiu da terra, pelo visto queria provar a minha sopa; mas levou uma colherada e voltou para o lugar de onde veio.
Os ladrões ficaram assombrados e um deles disse:
- Não muito longe daqui há um casarão abandonado; ali, sem dúvida sentirás medo.
O jovem foi até a casa e entrou; encontrou-se então em um enorme salão completamente vazio e viu, pendurado no teto, um cesto em que havia uma criança chorando. De repente surgiu da escuridão uma jovem, dando voltas nervosamente e olhando com desespero para o cesto pendurado. A donzela aproximou-se do jovem e disse:
- Levanta-me nos seus ombros. A criança está chorando e eu quero niná-lo, mas o cesto está tão alto que assim não o alcançarei.
Ele concordou e a moça se sentou sobre seus ombros. Enquanto balançava a criança, a jovem apertava com os joelhos o pescoço do rapaz. Ele sentiu que ia morrer estrangulado, então deu um salto e a mulher desapareceu, deixando cair no chão um bracelete. O jovem pegou-o e se afastou da casa.
Ao atravessar a rua, um velho judeu que viu o bracelete aproximou-se dele dizendo:
- Este bracelete é meu.
- Não, não é. O bracelete pertence a mim.
O judeu insistiu:
- Ele é minha propriedade.
- Pois vamos até o juiz. Se ele disser que é seu lhe darei. Senão ficarei com ele.
Quando expuseram o caso ao juiz, este setenciou:
- O bracelete será daquele que prove ser seu dono.
Nenhum dos dois pôde fazê-lo, e o juiz guardou a jóia até que comprovassem a quem pertencia.
O rapaz não se esquecera de que havia saído em busca do medo, e que nada do que havia acontecido o fizera senti-lo. Depois de muito caminhar, chegou a uma praia onde viu um barco que naufragava, e gritou:
- Vocês tem medo de se afogar?
E uma voz lhe respondeu:
- Claro que temos medo, como não iriamos ter medo, se estamos a ponto de morrer?
Rapidamente, ele tirou suas roupas e, atirando-se ao mar, nadou até chegar a embarcação.
Outra voz lhe disse:
- Estamos naufragando, como podes perguntar se temos medo?
O jovem amarrou um cabo na cintura e descendeu até às profundezas do oceano. Ali descobriu que a filha do mar estava puxando o barco. Amarrou-a com o cabo e trouxe-a para fora d’água. Chegando à superfície, perguntou-lhe em tom desafiante:
- É isto o medo?
E soltou-a,virando as costas e afastando-se de novo em busca do medo.
Caminhou pela costa e descobriu um grande jardim em frente ao qual havia uma fonte. Três pombos que saltitavam ao seu redor submergiram n’água e ao voltar a sair se converteram em três donzelas que traziam uma mesa com taças para beber. Quando uma delas se dispôs a brindar, as outras duas lhe perguntaram:
- À saúde de quem bebes?
Ela respondeu:
- Bebo a saúde daquele que celebrou sua festa entre os defuntos e não desmaiou quando saiu uma mão da terra.
Quando a segunda ia beber, as outras perguntaram o mesmo, e ela respondeu:
- À saúde daquele que não teve  medo de morrer estrangulado.
Por último, a terceira levantou sua taça e respondeu à pergunta das outras:
- No mar naufragava um barco; um jovem aprisionou a donzela que era culpada e não tremeu. À sua saúde bebo.
O rapaz resolveu falar:
- Eu sou esse jovem.
As donzelas o abraçaram e ele continuou:
- O juiz conserva o bracelete que caiu do braço de uma de vocês. Um velho judeu quis tirá-lo de mim, mas não permiti.
As jovens pegaram sua mão e desceram com ele a uma cova onde havia vários pátios, e em cada pátio uma infinidade de jóias dentro de caixas. Uma das donzelas disse:
- Tome este outro bracelete. Como é igual ao que está com o juiz, podes comprovar que os dois são teus.
Assim fez o rapaz e voltou com os dois braceletes à caverna.
- Não saias nunca do nosso lado! – disseram as donzelas.
- Sinto muito, mas não posso ficar enquanto não saiba o que é o medo.
E despedindo-se delas, seguiu seu caminho.
Logo chegou a um lugar onde se aglomerava uma multidão.
- O que está acontecendo? – perguntou o jovem.
Responderam-lhe que como havia morrido o rei daquele país, iam escolher um sucessor. Para a eleição, soltariam uma pomba que pousaria sobre a cabeça daquele designado pelos céus.
E quando soltaram a pomba, esta foi pousar na cabeça do jovem que não conhecia o medo. Como ele não se considerava digno de aceitar tal honra, soltaram uma nova pomba que, como na vez anterior, pousou na cabeça do jovem. Então o povo começou a gritar: “Você é nosso rei!”.
- Mas se estou em busca do medo! Não posso ser rei! – dizia enquanto era arrastado pela multidão para o palácio.
Finalmente, da janela da sala do trono disse a multidão:
- Aceito ser rei por esta noite, mas amanhã partirei em busca do medo.
Atravessando os aposentos do palácio, chegou a uma sala onde viu alguns homens construindo uma caixão e esquentando água.
Quando terminaram seu trabalho, ele resolveu que dormiria naquele aposento. Encostou o caixão na parede, apagou o fogo com água e começou a dormir.
Quando, de manhã, os homens entraram esperando encontrar o novo rei morto e viram que gozava de perfeita saúde, foram contá-lo a sua sultana, que lhes disse:
- Quando chegar a noite e estiver jantando comigo, coloquem um pardal vivo dentro da sopeira.
Enquanto jantavam, a sultana disse ao rei:
- Levante a tampa da sopeira.
- Não, porque não quero sopa – respondeu.
- Mas eu quero, faça-me este favor.
Tão logo o jovem levantou a tampa, o pássaro saiu voando. Foi tão inesperado o incidente que o rapaz sentiu um fugaz calafrio.
-Viu isto que você acaba de sentir? – disse a sultana. – Pois isso é o medo.
- É só isso? – Perguntou o jovem.
- Você agora já tremeu uma vez, que era o que buscava conseguir; o tremor será maior ou menor, mas já poderá conhecê-lo se voltar a senti-lo – respondeu ela.
Durante quarenta dias, celebrou-se o casamento entre a sultana e o jovem, e este governou com justiça durante muitos anos.

domingo, 12 de maio de 2013

Dia das Mães

Ser mãe é compromisso:
É trabalhoso, dispende energia e tempo disponível e ainda assim, não trocaria esse prazer por nada deste mundo!
Ser mãe transcende as coisas desse mundo...
É divertido, é poder resgatar a própria infância.
E é muito mais do que isso também...
Ganha-se força e sentido sendo mãe:
Mães viram seres de outro mundo para defenderem suas crias.
Mães se reinventam, crescem e aprendem com seus filhos.
Ser mãe é honra, privilégio e benção!


Berthe Morisot.  Hide and Seek.
MORISOT, Berthe - Hide and Seek, 1873- Col. Particular

sábado, 11 de maio de 2013

Rumi


A escuridão oculta a água da vida.

Não te apresses, vasculha o escuro.

Os viajantes noturnos estão plenos de luz;

não te afastes pois da companhia de teus pares.



quinta-feira, 9 de maio de 2013

Nasrudin - O idiota

Um filósofo, tendo marcado um debate com Nasrudin, foi até sua casa na hora combinada e não o encontrou ali. Furioso, pegou um pedaço de carvão e escreveu no portão de Nasrudin:
"IMBECIL".
Assim que chegou e viu isso, o mulla correu até a casa do filósofo.
"Eu tinha esquecido que você viria", disse ele. "Peço desculpas por não estar em casa. Logicamente, lembrei-me do nosso compromisso assim que vi seu nome assinado na minha porta."

Nasrudin - A verdade


Algumas pessoas que admiravam Nasrudin o cercaram e perguntaram:
-"Dizem que as suas histórias estão cheias de verdades e com sentidos ocultos, Nasrudin. Estão mesmo?"

-"Claro que não!" Respondeu Nasrudin.

-"Por que não? Porque você diz isto com tanta convicção?" Perguntaram.

-"Simplesmente porque nunca falei a verdade em toda a minha vida, nem uma vez sequer; e tampouco serei capaz de fazê-lo, um dia." Finalizou Nasrudin.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Nasrudin - A pior memória


Mulla Nasrudin estava reclamando de sua esposa para um amigo.

"Eu não sei o que vou fazer com ela", disse. "Ela tem a pior memória do mundo."

"Você quer dizer que ela esquece tudo?" perguntou seu amigo.

"Não", disse Nasrudin. "Muito pior! Ela se lembra de tudo."