quinta-feira, 11 de abril de 2013


SHAH, Idries
Chercheur de Verité - Buscadores da verdade
Collection Spiritualités Vivants – Éditions Albin Michel
(livre tradução minha)


A avidez em se obstinar

            Era uma vez um homem honesto que nunca abusou de ninguém. Mas ainda que ele fosse tão bom e trabalhador, não tinha tido sucesso na vida.
            Este homem, que se chamava Obstinado, era continuamente traído e explorado, mas isso não o incomodava pois ele sabia que a maldade dos outros não poderia diminuir sua própria retidão, e nisso ele não se enganava.
            Obstinado praticava o bem, a caridade e a generosidade com todos os meios disponíveis, confiante na justiça que – ele estava convencido – não deixaria do coroar sua existência.
            Mas ele não tinha o espírito em paz. Assim ele foi visitar um sufi para pedir-lhe conselho.
            O sufi lhe disse:
            “Irmão, é certo que para aquele que deseja alcançar a realização de si mesmo que a honestidade, o esforço e a bondade sejam de uma importância capital. Mas você tem certeza que você é realmente honesto, que não está, de fato,  compensando sua generosidade pela mesma dose de ganância perniciosa em se obstinar a agir, custe o que custar, de acordo com suas opiniões?”
            O sufi indica-lhe como se observar e se corrigir mas não agradou ao Obstinado, que pudessem tomar sua honestidade por obstinação, e ele concluiu que o sufi tinha se enganado.
            Ele decidiu então visitar o grande santo Musa al-Kazim para que esse lhe mostrasse como modificar o curso de seu destino e as perspectivas de seu desenvolvimento espiritual.
            Ele se colocou à caminho.
            Quando ele atravessava uma região selvagem, o homem de bem encontrou um tigre, extremamente feroz de aparência, que rolava no chão. Quando viu o viajante, o tigre se imobilizou.
            “ Filho de homem, onde você vai?”
            - Infeliz hoje como ontem, incerto quanto ao meu futuro, vou ao encontro do grande santo Musa Al-Kazim para implorar seus conselhos, respondeu Obstinado.
            _ Eu sou Shir, o Tigre, disse a fera, e  te suplico que pergunte ao santo o que eu posso fazer para melhorar meu estado pois  me sinto miserável e sem sorte. Tem alguma coisa que não está bem e eu necessito um parecer autorizado.
             - De bom grado, disse o viajante.
            E ele prosseguiu em seu caminho.
            Um dia ele chegou a beira de um rio. Viu, metade dentro da água metade fora da água, um grande peixe que abria sua boca e depois a fechava.
            O peixe lhe pergunta:
            “Filho do homem, onde você vai?”
            Obstinado conta-lhe tudo.
            “Eu sou Mahi, a Senhora Peixe, diz o peixe. Também não estou bem:  não sei porque, não consigo nadar, e preciso que me socorram. Quando você encontrar o santo, conte-lhe meu problema por favor e peça-lhe um conselho.”
            Obstinado prometeu.
            Nosso peregrino caminhava havia bastante tempo quando viu três homens cavarem, penosamente, um terreno arenoso. Ele parou e perguntou porque eles trabalhavam tão duramente uma terra tão infértil.
            “Nós somos os três filhos de um homem de bem que acaba de morrer, lhe disseram eles. Nosso pai nos deixou esta terra direcionando-nos  a trabalhar nela e é isso que estamos fazendo. Mas tememos que nunca cresça nada de tão desolada ela é.”
            Eles perguntaram ao Obstinado qual era sua missão e ele lhes disse. Suplicaram-lhe então que intercedesse por eles junto ao grande santo afim de que ele os ajudasse a resolver suas dificuldades. Obstinado prometeu de bom coração e retomou seu caminho.
            Enfim, o viajante chegou ao seu destino. O grande mestre, como sempre, falava simplesmente e sem ostentação, para um grande grupo que tinha vindo aprender com ele.
            Quando Obstinado aproximou-se, o santo disse-lhe: “Fale.” Obstinado, após ter-se apresentado, disse:
            “ Vim buscar sua ajuda, mas antes de mais nada, Senhor, preciso pedir sua ajuda em nome de três homens, um peixe e um tigre que eu encontrei durante minha longa peregrinação e em direção dos quais você talvez aceite manifestar sua bondade.”
            O sábio assinalou-lhe que continuasse, e ele expôs as dificuldades que passavam os três homens, o peixe e o animal.
“Tua Presença, terá talvez agora a bondade de autorizar a indigna pessoa que está diante de ti para expor a sua própria condição, afim de que para ele também conselhos e recomendações sejam generosamente fornecidos.”
Musa Al-Khazim o interrompeu:
“Irmão! Tua resposta esta incluída nos conselhos que acabei de dar.”
Obstinado se retorna então, se perguntando como encontrar naquilo que o santo havia dito a solução para seus problemas pessoais.
Ele encontra os três homens que trabalhavam no campo árido e lhes disse:
“Eu consultei o grande santo, e eis o conselho: “Que os três homens cavem exatamente no centro do campo; eles descobrirão um quarto subterrâneo contendo tesouros que retornam à eles. Isso é o que queria dizer o pai quando lhes disse para cavar a terra.”
Obstinado ajuda os três homens a fazerem o que lhes foi indicado e eles não tardaram a encontrar um tesouro inestimável assim como um certo número de instrumentos maravilhosos que permitiam realizar o que se chama comumente de milagres, quer seja ou não para o bem da humanidade.
Os irmão propuseram ao Obstinado que pegasse tudo o que ele quisesse mas ele recusou, dizendo:
“Meus amigos, vocês são bons mas eu apenas cumpri o meu dever! Tudo isso lhes pertence e eu não tenho o direito de cobiçar seus bens. Fiquem em paz!”
Logo a seguir, ele se foi.
Ele encontra Mahi que lhe pergunta o que o grande santo havia recomendado para aliviar seus sofrimentos...
“Senhora peixe! falou Obstinado, graças as suas extraordinárias percepções, Musa al-Khazim suavizou a sorte de três irmãos indigentes revelando-lhes que suas terras escondiam um tesouro. No que concerne a você, eis o conselho que ele deu: “Que batam-lhe sobre o lado esquerdo da cabeça e ela poderá nadar e se jogar na água normalmente.
Mahi pede ao Obstinado para ajudá-la. Ele pega seu bastão e golpeia no lugar que o santo havia indicado.
Quase instantaneamente, Mahi escorrega para a água e se põe a nadar, saltar e brincar com uma alegria sem fim. Depois, dirigindo-se para Obstinado, agradece-lhe entusiasticamente por sua ajuda.
“Mahi, diz, quando eu te bati na cabeça, soltou-se uma espécie de bola, é isso sem dúvida que te desequilibrava...
_ Sim, sim,  disse Mahi, mas isso não me interessa. Tudo o que sei é que fui libertada e que me sinto bem!”
Obstinado insiste:
“Desse lugar da sua cabeça caiu um diamante maior que uma melância. Ele está lá naa margem, pegue-o, senão vão certamente roubá-lo!
            Qual o interesse para mim, que sou um peixe?” disse Mahi. E ela desapareceu rogando por bençãos para seu benfeitor.
            “Minha irmã! grita obstinado. Se eu deixar o diamante aqui vão roubar-lhe.”
            Ele então joga a enorme joia na água, lá onde ele viu desaparecer o peixe.
            Prosseguindo seu caminho, o viajante chega finalmente ao lugar onde se encontrava o tigre aflito. Ele lhe conta suas aventuras e o tigre pergunta o que Musa al-Kazim tinha aconselhado para seu caso pessoal.
            “O santo, disse Obstinado, declarou, palavra por palavra, que para melhorar seu estado, só existe um remédio: devorar um insensato. Faça-o  e você não terá mais aborrecimentos.
            _ Você também não!” rugiu o tigre saltando sobre ele.






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