SHAH, Idries
Chercheur de Verité - Buscadores da
verdade
Collection
Spiritualités Vivants – Éditions Albin Michel
(livre tradução minha)
A avidez em se obstinar
Era uma vez um homem honesto que
nunca abusou de ninguém. Mas ainda que ele fosse tão bom e trabalhador, não
tinha tido sucesso na vida.
Este homem, que se chamava Obstinado,
era continuamente traído e explorado, mas isso não o incomodava pois ele sabia
que a maldade dos outros não poderia diminuir sua própria retidão, e nisso ele
não se enganava.
Obstinado
praticava o bem, a caridade e a generosidade com todos os meios disponíveis,
confiante na justiça que – ele estava convencido – não deixaria do coroar sua
existência.
Mas ele não
tinha o espírito em paz. Assim ele foi visitar um sufi para pedir-lhe conselho.
O sufi lhe
disse:
“Irmão, é
certo que para aquele que deseja alcançar a realização de si mesmo que a
honestidade, o esforço e a bondade sejam de uma importância capital. Mas você
tem certeza que você é realmente honesto, que não está, de fato, compensando sua generosidade pela mesma dose
de ganância perniciosa em se obstinar a agir, custe o que custar, de acordo com
suas opiniões?”
O sufi
indica-lhe como se observar e se corrigir mas não agradou ao Obstinado, que
pudessem tomar sua honestidade por obstinação, e ele concluiu que o sufi tinha
se enganado.
Ele decidiu
então visitar o grande santo Musa al-Kazim para que esse lhe mostrasse como
modificar o curso de seu destino e as perspectivas de seu desenvolvimento
espiritual.
Ele se
colocou à caminho.
Quando ele
atravessava uma região selvagem, o homem de bem encontrou um tigre,
extremamente feroz de aparência, que rolava no chão. Quando viu o viajante, o
tigre se imobilizou.
“ Filho de
homem, onde você vai?”
- Infeliz
hoje como ontem, incerto quanto ao meu futuro, vou ao encontro do grande santo
Musa Al-Kazim para implorar seus conselhos, respondeu Obstinado.
_ Eu sou Shir,
o Tigre, disse a fera, e te suplico que
pergunte ao santo o que eu posso fazer para melhorar meu estado pois me sinto miserável e sem sorte. Tem alguma
coisa que não está bem e eu necessito um parecer autorizado.
- De bom grado, disse o viajante.
E ele
prosseguiu em seu caminho.
Um dia ele
chegou a beira de um rio. Viu, metade dentro da água metade fora da água, um grande
peixe que abria sua boca e depois a fechava.
O peixe lhe
pergunta:
“Filho do
homem, onde você vai?”
Obstinado
conta-lhe tudo.
“Eu sou Mahi, a Senhora Peixe, diz o peixe. Também
não estou bem: não sei porque, não
consigo nadar, e preciso que me socorram. Quando você encontrar o santo,
conte-lhe meu problema por favor e peça-lhe um conselho.”
Obstinado
prometeu.
Nosso
peregrino caminhava havia bastante tempo quando viu três homens cavarem,
penosamente, um terreno arenoso. Ele parou e perguntou porque eles trabalhavam
tão duramente uma terra tão infértil.
“Nós somos
os três filhos de um homem de bem que acaba de morrer, lhe disseram eles. Nosso
pai nos deixou esta terra direcionando-nos
a trabalhar nela e é isso que estamos fazendo. Mas tememos que nunca
cresça nada de tão desolada ela é.”
Eles
perguntaram ao Obstinado qual era sua missão e ele lhes disse. Suplicaram-lhe
então que intercedesse por eles junto ao grande santo afim de que ele os
ajudasse a resolver suas dificuldades. Obstinado prometeu de bom coração e
retomou seu caminho.
Enfim, o
viajante chegou ao seu destino. O grande mestre, como sempre, falava
simplesmente e sem ostentação, para um grande grupo que tinha vindo aprender
com ele.
Quando
Obstinado aproximou-se, o santo disse-lhe: “Fale.” Obstinado, após ter-se
apresentado, disse:
“ Vim buscar
sua ajuda, mas antes de mais nada, Senhor, preciso pedir sua ajuda em nome de
três homens, um peixe e um tigre que eu encontrei durante minha longa
peregrinação e em direção dos quais você talvez aceite manifestar sua bondade.”
O sábio assinalou-lhe que continuasse, e ele expôs as dificuldades que
passavam os três homens, o peixe e o animal.
“Tua Presença, terá talvez agora a
bondade de autorizar a indigna pessoa que está diante de ti para expor a sua
própria condição, afim de que para ele também conselhos e recomendações sejam
generosamente fornecidos.”
Musa Al-Khazim o interrompeu:
“Irmão! Tua resposta esta incluída
nos conselhos que acabei de dar.”
Obstinado se retorna então, se
perguntando como encontrar naquilo que o santo havia dito a solução para seus
problemas pessoais.
Ele encontra os três homens que
trabalhavam no campo árido e lhes disse:
“Eu consultei o grande santo, e eis o
conselho: “Que os três homens cavem exatamente no centro do campo; eles
descobrirão um quarto subterrâneo contendo tesouros que retornam à eles. Isso é
o que queria dizer o pai quando lhes disse para cavar a terra.”
Obstinado ajuda os três homens a
fazerem o que lhes foi indicado e eles não tardaram a encontrar um tesouro
inestimável assim como um certo número de instrumentos maravilhosos que
permitiam realizar o que se chama comumente de milagres, quer seja ou não para
o bem da humanidade.
Os irmão propuseram ao Obstinado que
pegasse tudo o que ele quisesse mas ele recusou, dizendo:
“Meus amigos, vocês são bons mas eu apenas
cumpri o meu dever! Tudo isso lhes pertence e eu não tenho o direito de cobiçar
seus bens. Fiquem em paz!”
Logo a seguir, ele se foi.
Ele encontra Mahi que lhe pergunta o
que o grande santo havia recomendado para aliviar seus sofrimentos...
“Senhora peixe! falou Obstinado,
graças as suas extraordinárias percepções, Musa al-Khazim suavizou a sorte de
três irmãos indigentes revelando-lhes que suas terras escondiam um tesouro. No
que concerne a você, eis o conselho que ele deu: “Que batam-lhe sobre o lado
esquerdo da cabeça e ela poderá nadar e se jogar na água normalmente.”
Mahi pede ao Obstinado para ajudá-la.
Ele pega seu bastão e golpeia no lugar que o santo havia indicado.
Quase instantaneamente, Mahi
escorrega para a água e se põe a nadar, saltar e brincar com uma alegria sem
fim. Depois, dirigindo-se para Obstinado, agradece-lhe entusiasticamente por sua
ajuda.
“Mahi, diz, quando eu te bati na
cabeça, soltou-se uma espécie de bola, é isso sem dúvida que te
desequilibrava...
_ Sim, sim, disse Mahi, mas isso não me interessa. Tudo o
que sei é que fui libertada e que me sinto bem!”
Obstinado insiste:
“Desse lugar da sua cabeça caiu um
diamante maior que uma melância. Ele está lá naa margem, pegue-o, senão vão
certamente roubá-lo!
Qual o
interesse para mim, que sou um peixe?” disse Mahi. E ela desapareceu rogando
por bençãos para seu benfeitor.
“Minha irmã!
grita obstinado. Se eu deixar o diamante aqui vão roubar-lhe.”
Ele então
joga a enorme joia na água, lá onde ele viu desaparecer o peixe.
Prosseguindo
seu caminho, o viajante chega finalmente ao lugar onde se encontrava o tigre
aflito. Ele lhe conta suas aventuras e o tigre pergunta o que Musa al-Kazim
tinha aconselhado para seu caso pessoal.
“O santo,
disse Obstinado, declarou, palavra por palavra, que para melhorar seu estado,
só existe um remédio: devorar um insensato. Faça-o e você não terá mais aborrecimentos.
_ Você
também não!” rugiu o tigre saltando sobre ele.
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