quinta-feira, 30 de setembro de 2010

T.S.ELLIOT A terra desolada


trecho inicial da parte V

As palavras se movem, a música se move
Apenas no tempo; mas só o que vive
Pode morrer. As palavras, após a fala, alcançam
o silêncio. Apenas pelo modelo, pela forma,
As palavras ou a música podem alcançar
O repouso, como um vaso chinês que ainda se move
Perpetuamente em seu repouso.
Não o repouso do violino, enquanto a nota perdura,
Não apenas isto, mas a coexistência,
Ou seja, que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio sempre estiveram lá
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.
As palavras se distendem,estalam e muita vez se quebram, sob a carga,
Sob a tensão, tropeçam, escorregam, perecem,
Apodrecem com a imprecisão, não querem manter-se no lugar,
Não querem ficar quietas. Vozes estridentes,
Irritadas, zombeteiras, ou apenas tagarelas,
Sem cessar as acuam. A Palavra no deserto
É mais atacada pelas vozes da tentação,
A sombra soluçante da funérea dança,
O clamoroso lamento da quimera inconsolada.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mário Quintana

" Intrusão: O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente."

" As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho."

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Victor Hugo

"Quem abre uma escola fecha uma prisão"

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Á moda de Cecilia




À moda de Cecília

Houve um tempo que minha janela dava para um corredor que levava a um quintal. Nesse quintal se brincava de circo. Tinha gato, pintinho, cachorro e até um porquinho de pescoço torto. Era criança de chupar frutas no pé e esse mundo de encantamento e diversão me fazia completamente feliz.

Houve um tempo que minha janela se abria para uma rua. No quintal, o espinafre crescia abundante e farto e dali vinha para a mesa, em infinitas variações. As festas, viagens e aprendizados se sucediam.Eu descobria minha liberdade e meus limites e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo que minha janela dava para o pátio de uma escola. As crianças saiam para brincar em horas determinadas e o som de suas vozes alegres e das risadas enchia o ar. Um dia o pátio se cobriu com o branco da neve e o chão ficou riscado por seus passos. Era outra língua, outro o clima, e eu recém-casada, me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que da minha janela eu via um pé de romã. Nele os passarinhos faziam ninho. Após a chuva, os eucaliptos da praça ao lado espalhavam no ar seu perfume. O forte calor convidava a pulos na piscina. As crianças que ali brincavam agora eram meus filhos e meu coração se sentia completamente feliz.

Hoje minha janela dá para uma praça. Ás vezes chega até meus ouvidos o som de alguém tocando sax. Ás vezes uma serenata se faz. As ruas delineiam a cidade e o céu se tinge de mil tons ao amanhecer. Por vezes chove, muitas vezes faz calor. Tem momentos que o vento sopra a favor, em outros não. A vida prossegue, grandiosamente simples em seu ritmo natural e eu me sinto, inteiramente feliz!
Texto e foto meus.

domingo, 26 de setembro de 2010

Goethe

"...os mal-entendidos e a negligência causam no mundo mais equívocos que a astúcia e a crueldade. Estas duas, pelo menos, são bem mais raras."
Os sofrimentos do jovem Werther

sábado, 25 de setembro de 2010

Sopa de pato


Um conterrâneo de Nasrudin veio do interior visitá-lo e trouxe-lhe um pato. Muito grato pelo presente, Nasrudin cozinhou a ave e compartilhou-a com sua visita.
Não tardou para que chegasse outra visita. Era um amigo, conforme disse, "do homem que lhe deu o pato." Nasrudin igualmente recebeu-o e deu-lhe de comer.
Isso aconteceu várias vezes. A casa de Nasrudin tornou-se uma espécie de restaurante para visitantes de fora da cidade. Todo mundo era, em algum grau, amigo daquele primeiro sujeito que havia preparado o pato.
Finalmente, Nasrudin esquentou-se. Um dia um estranho, bateu a porta. "Sou amigo do amigo, do amigo do homem que lhe deu o pato", disse.
"Entre", disse Nasrudin.
Sentaram-se à mesa e Nasrudin pediu que sua mulher trouxesse a sopa.
Assim que o visitante deu o primeiro gole, pareceu-lhe estar tomando nada além de água quente. "Que tipo de sopa é esta?", perguntou ao Mullá.
"Esta", respondeu Nasrudin, "é a sopa da sopa da sopa do pato."

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Au printemps - Jacques Brel

Equinócio da Primavera


Equinócio da primavera
23 de setembro de 2010/ 03.09hs/ com duração de 89,95 dias!
Para entender como acontece o fenômeno, é preciso conhecer um pouco da história. Antigamente a natureza era cultuada por civilizações antigas que aqui habitaram. Esses povos cultuavam a Lua, o Sol, como se fossem deuses, e os fenômenos naturais exerciam uma grande influencia no seu modo de vida.
O significado da palavra Equinócio deriva do latim aequinoctium, que significa noite igual e refere-se ao momento do ano em que a duração do dia é igual a da noite sobre toda a terra.
São os movimentos que a Terra realiza em seu percurso ao redor do sol (rotação e translação) que tem, entre outras conseqüências, as estações do ano, os Equinócios e Solstícios.
Nesse período, o dia e a noite tem a mesma duração em todo o planeta. A ocorrência desse fenômeno marca a mudança de estação nos hemisférios da Terra. Em setembro no hemisfério sul é primavera enquanto no norte é Outono.A Primavera do hemisfério norte é chamada de "Primavera boreal", e a do hemisfério sul é chamada de "Primavera austral".
O Equinócio de Primavera, é basicamente um Festival Solar. Na agricultura, sinaliza o tempo em que as sementes são plantadas e começam o seu processo de crescimento. Isso indica também que é o momento ideal para fortalecer a energia de complementaridade entre homem e mulher.
Essa também é a hora de cultivarmos nossas "sementes" (metas e objetivos). É o período de celebrar as mudanças de nosso corpo, pois nessa estação do ano ficamos mais ativos, dormimos menos, comemos menos e gastamos mais tempo ao ar livre.
Caminhar pelo campo para colher flores. Enfeitar toda a casa com elas. . Celebrar a Natureza agradecendo pela beleza proporcionada pela Primavera. . Plantar uma arvore ou flores. Fazer um jardim.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Mário Quintana




Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Pra que pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Mario Quintana - A Rua dos Cataventos

Foto: Jardim de Boboli- Palazzo Pitti- Firenzi

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Primavera!

Giuseppe Arcimboldo - 1573
Musée du Louvre, Paris

Fernando Pessoa - Chove

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar (
Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bodas de casamento

Dia 09 de setembro meus pais comemoraram 60 anos de casados - bodas de diamante! Para mim é um privilégio e uma Graça isso. Primeiro por vê-los tão bem e mais ainda, por ver um amor que resiste ao tempo e aos contratempos durante toda uma vida.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hilda Hilst

Dez chamamentos ao amigo

I.

Minha medida? Amor.
E tua boca na minha
Imerecida.
Minha vergonha?
O verso
Ardente. E o meu rosto
Reverso de quem sonha.
Meu chamamento? Sagitário
Ao meu lado
Enlaçado ao Touro.
Minha riqueza? Procura
Obstinada, tua presença
Em tudo: julho, agosto

Zodíaco antevisto, página
Ilustrada de revista
Editorial, jornal
Teia cindida.
Em cada canto da Casa
Evidência veemente
Do teu rosto.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

e.e.cummings


em algum lugar onde nunca estive, o bom grado além

de toda experiência, seus olhos têm o seu próprio silêncio:

em seu mais frágil gesto há coisas que me envolvem,

ou que não posso tocar por estarem próximas demais

seu mais singelo olhar facilmente me desvela

embora eu tenha me fechado como dedos,

você abre pétala por pétala a mim como abre a Primavera

(tocando habilmente, misteriosamente) a sua primeira rosa...

nada o que haveremos de perceber neste mundo iguala

o poder da sua intensa fragilidade...

domingo, 12 de setembro de 2010


Comecei a colocar no blog da terapia estratégica uma série de lições do livro: Os Segredos da Vida de Elisabeth Kubler- Ross. Admiro o trabalho dessa renomada psiquiatra que neste livro nos fala sobre a vida e o viver. Diz ela:
" quando falo em aprender lições, eu me refiro a resolver questões inacabadas. [...]
Aprender as lições capazes de curar nosso espírito - nossa alma- e de trazer à tona a pessoa que realmente somos."

Iniciei com a lição da raiva.
Vale a pena conhecer.

http://terapiaestrategicarp.blogspot.com/

sábado, 11 de setembro de 2010

Saramago - Viagem


A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
José Saramago

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Maitena



Rumi - Além dos sonhos


Dentro de mim há um oceano
em que se afogam, com todas suas penas,
mil Rumis.
Mundos dentro de mundos.

No seio desse oceano,
sonhadores engendram
multiplas Bagdás.
Adormecido ou desperto,
onde viste a ti mesmo por inteiro refletido?

Vagueia o sonhador, de quarto em quarto,
até despertar num estranho aposento.
Lá, uma manhã insólita
chega branca como cânfora
para entregar-se inteira a ti.

Um vento suave
cinge teu peito.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Clarice Lispector

Mas há a vida

que é para ser

intensamente vivida, há o amor.



Que tem que ser vivido

até a última gota.

Sem nenhum medo.

Não mata.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Proteção


Hoje eu quero estar neste templo de velas acesas
e ajoelhando-me diante do altar agradecer.
Chove, depois de tanta seca.
Chove e as velas acesas agradecem a vida
que pela terceira vez me foi dada.
Os fios invisíveis da teia da vida
sustentam e protegem na escuridão.
Santos, anjos, cuidadores ínvisíveis e visíveis
embalam com mãos abençoadas.
A chuva caindo lava a angústia, leva o temor.
A vela acesa ilumina a escuridão.
O dia que a aurora anuncia traz a vida renovada.
E eu. humildemente, agradeço a benção recebida.




Aleijadinho- Anjo

CHUVA OBLÍQUA (trecho) Fernando Pessoa


Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...
E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...
Quando os pais não são severos com os filhos a vida se encarrega de sê-lo.
Provérbio arábe

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Octavio Paz - Silêncio


Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz, in "Liberdade sob Palavra"
Tradução de Luis Pignatelli

Quadro: O grito de Edvard Munch

"Os fogos de hoje são as cinzas de amanhã."
Idries Shah

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O pássaro e o ovo


Havia uma vez um pássaro que não tinha o poder de voar. Como um pinto, andava pelo chão, embora ciente de que alguns pássaros voavam.

Aconteceu porém que, graças a um jogo de circunstâncias, o ovo de um pássaro voador foi incubado pelo que não voava.

Em seu devido tempo nasceu o filhote, com a potencialidade de vôo que seus iguais sempre tinham tido.

Voltou-se então para sua mãe adotiva, perguntando:

_ Quando voarei?

_ Persita em suas tentativas de voar, como os outros - respondeu o pássaro que vivia preso à terra.

Disse isso porque não sabia como ensinar o passarinho a voar, e nem sequer tinha idéia de como lança-lo do ninho a fim de que aprendesse.

É curisoso, de certo modo, que o passarinho não notasse isso. O reconhecimento de sua situação o confundia em virtude da gratidão que sentia em relação ao pássaro que o havia incubado.

_ Sem seu auxílio - dizia a si mesmo _, seguramente eu ainda estaria no ovo.

E ainda em outras ocasiões, murmurava:

_ Quem pode incubar-me, certamente deve poder me ensinar a voar. Na certa será apenas uma questão de tempo, ou de meu próprio empenho sem ajuda, ou ainda de alguma grande sabedoria. Sim, deve ser assim. Um dia, de repente, serei conduzido à etapa seguinte por quem me trouxe até aqui.



Escrito por Suhrawardi, no século XII

Idries SHAH - Histórias dos Dervixes - Ed. Nova Fronteira

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Mário Quintana


PEQUENO ESCLARECIMENTO
Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.

Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo