sábado, 22 de outubro de 2011

Deus é mais forte

Ibotity tinha subido numa árvore quando o vento soprou a árvore; a árvore se partiu, Ibotity caiu e quebrou a perna.

- A árvore é forte porque quebrou minha perna – disse.

- O vento é mais forte do que eu – disse a árvore.

Mas o vento disse que a colina era mais forte, já que ela podia parar o vento. Ibotity, é claro, pensou que a força estava na colina, porque ela podia parar o vento, o vento que partiu a árvore, a arvore que quebrou sua perna.

- Não – disse a colina, enquanto explicava que o rato era mais forte, porque podia esburacar a colina.

- Eu posso ser morto pelo gato – contestou o rato.

E assim Ibotity pensou que o gato deveria ser o mais forte.

- De jeito nenhum – disse o gato, explicando que poderia ser apanhado por uma corda.

Ibotity achou que a corda devia ser a coisa mais forte. A corda, porém, explicou que podia ser cortada pelo ferro. Portanto o ferro era mais forte. O ferro, por sua vez, negou ser o mais forte, já que podia ser derretido pelo fogo.

Ibotity então pensou que o fogo devia ser o mais forte, porque ele derretia o ferro, o ferro que cortava a corda, a corda que prendia o gato, o gato que caçava o rato, o rato que esburacava a colina, a colina que parava o vento, o vento que partiu a árvore que quebrou a perna de Ibotity.

O fogo disse que era a água era mais forte. A água declarou que a canoa era muito mais forte, porque sulcava a água. Mas a canoa foi superada pela rocha, e a rocha pelo homem, e o homem pelo Mago, e o mago pela prova do veneno por Deus. Assim, Deus é mais forte de que tudo.

Ibotity pensou então que Deus podia vencer a prova que imobilizava o mago, que dominava o homem, que quebrava a pedra, que derrotava a canoa, que fendia a água, que apagava o fogo, que fundia o ferro, que partia a corda, que prendia o gato, que matava o rato, que esburacava a colina, que parava o vento que rachava a árvore que quebrou a perna de Ibotity.



Retirado do Livro "Histórias da Tradição Sufi" – Rio de Janeiro: Edições Dervish – Instituto Tarika, 1993.

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