sábado, 15 de outubro de 2011

O HOMEM QUE TINHA CONSCIÊNCIA DA MORTE:

Certa vez um dervixe partiu em uma viagem marítima. Ao subirem ao barco, um por um, os demais passageiros o viram e, como era de costume, lhe pediram um conselho. Tudo o que o dervixe fez foi dizer a cada um a mesma coisa. Parecia meramente repetir uma dessas fórmulas que cada dervixe transforma em objeto de sua atenção, de tempos em tempos.

Eis a fórmula:"trate de estar atento à morte, até saber o que ela é." Poucos viajantes se sentiram particularmente interessados em tal conselho.

A viajem mal se iniciara quando desabou uma tempestade. Tanto a tripulação como os passageiros caíram de joelhos, suplicando a Deus que salvasse o barco. Gritos de terror se fizeram ouvir alternadamente. Julgando-se já perdidos, esperavam aflitos por socorro. Nesse meio tempo, o dervixe manteve-se sentado tranquilamente, meditativo, sem reagir ante a agitação e as cenas de aflição ali reinantes.

Finalmente cessou o temporal, mar e céu se aquietaram, e os passageiros se conscientizaram de como o dervixe permanecera sereno durante aqueles maus momentos.

- Não percebeu que durante essa terrível tormenta não houve entre nós e a morte senão uma frágil ponte? - indagou um deles.

- Mas, sim, notei, respondeu o dervixe. - Eu sabia que no mar é sempre assim. No entanto, também percebi que, como já refleti tantas vezes quando em terra, no curso normal dos acontecimentos, costuma haver "ainda menos" entre nós e a morte.

História dos Dervixes / Idries Shah / Edição da Nova Fronteira

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