quinta-feira, 30 de junho de 2011

Eduardo Galeano - O amor

O amor

Eduardo Galeano

Na selva amazônica, a primeira mulher e o primeiro homem se olharam com curiosidade. Era estranho o que tinham entre as pernas.
_ Te cortaram? – perguntou o homem.
_ Não – disse ela-. Sempre fui assim.
Ele a examinou de perto. Se coçou a cabeça. Ali havia uma ferida aberta.
Disse:
_ Não comas banana, nem mandioca, nem fruta alguma que se rache ao amadurecer. Eu te curarei. Deita-te na rede e descansa.
Ela obedeceu. Com paciência tomou a mistura de ervas e deixou que aplicasse as pomadas e ungüentos. Tinha que apertar os dentes para não rir, quando ele dizia:
_ Não se preocupe.
O jogo a agradava, mesmo que começava a cansar-se de viver em jejum e estendida na rede. A memória das frutas lhe enchia a boca d’água.
Uma tarde o homem chegou correndo através da floresta. Dava saltos de euforia e gritava:
_ Encontrei! Encontrei!
_ Acabara de ver o macaco curando a macaca na copa de uma árvore.
_ É assim – disse o homem, aproximando-se da mulher.
Quando terminou o longo abraço, um aroma espesso de flores e frutas, invadiu o ar. Dos corpos, deitados juntos, desprendiam-se vapores e fulgores jamais vistos, e era tanta sua beleza que morriam de vergonha os sóis e os deuses.




Tradução livre minha

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Grupo Corpo - Bach (1) - Belo Horizonte



Trecho do balé Bach, criado em 1996, coreografia de Rodrigo Pederneiras, musica de Marco Antonio Guimaraes (do Uakti) sobre obra de Bach.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Rumi - Tão louco quanto nós ( trecho)


Tudo em volta está verde. As flores estão em todos os lugares.
Todas as partículas sorriem refletindo a Beleza.
Tudo brilha como pedras preciosas.
Amado e amante estão em união em todos os lugares.

Feche seus olhos. Meu coração será um olho para você.
Com este olho, outro mundo lhe será mostrado.
Quando você decidir não ser vaidoso,
Todos irão admirá-lo.

Não sei quem se senta em meu coração
Ou porque ele sorri para mim.
Não sou mais eu mesma.
Meu coração é como o ramo de uma rosa
Que perdeu suas folhas na brisa da manhã.

Você é aquele que faz com que todas as minhas inquietudes desapareçam.
Você faz com que o cedro, a rosa e o jardim se percam de si mesmos.
A rosa está alegre. O espinho está embriagado.
Dê a nós mais um copo, para que fiquemos todos iguais.

domingo, 26 de junho de 2011

Rumi - A morte e o amor

Só a morte põe fim seguro
às dores e aflições da vida.
A vida, porém, temerosa,
tudo faz para adiar esse encontro.

É que a vida vê na morte
apenas a mão sombria
e fecha os olhos à luzente taça,
que a mesma morte lhe oferece.

Assim também foge do amor
o coração apaixonado,
receoso de um dia morrer
da mesma paixão por que vive.

Lá onde nasce o verdadeiro amor
morre o "eu", esse tenebroso déspota.
Tu o deixas expirar no negro da noite
e livre respiras à luz da manhã.

Poemas Místicos - Attar Editorial

sábado, 25 de junho de 2011

Mogli e Baloo : somente o necessário




Esse filme foi um marco na minha infância! O prazer, a alegria e a sabedoria de aproveitar o que a vida nos dá, simples assim....

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Cantar de Gilgamesh

O Cantar de Gilgamesh , considerada a obra-prima da literatura suméria, é um canto épico que narra as façanhas do Rei-herói, Gilgamesh, da antiga cidade de Uruk, na Mesopotâmia. O tema central vai além da narração de viagens, lutas e aventuras, temores e sonhos do protagonista: canta-se à amizade, ao amor, aos sentimentos de vingança, fala-se de opressão, de arrependimento e, acima de tudo, do temor à desaparição final e ao esquecimento após a morte. Este último é que leva Gilgamesh a uma procura insólita, desesperada e falida, mas não inútil, pela sua transcendência, da imortalidade.

Gilgamesh, talvez, o primeiro personagem histórico, viveu em torno do ano 2700 a.C., reinou em Uruk (a Erech bíblica) e construiu suas muralhas. Na lendária relação dos reis sumérios, ele é o sexto rei após o Dilúvio.

A existência desta obra-prima foi revelada pelo arqueólogo inglês George Smith que, em 1872, entre os restos da Biblioteca Real de Nínive, encontrou partes da descrição do Dilúvio Universal, semelhante mas muito anterior ao do Gênese do Antigo Testamento hebraico.

O Poema começa com o Elogio a Gilgamesh:

Ó! Divino Gilgamesh, que todo o viu

Eu te farei conhecer em todas as terras.

Eu ensinarei sobre (aquele) que experimentou todas as coisas.

Anu deu-lhe a totalidade do conhecimento do Todo.

Ele viu o Segredo, penetrou o Mistério.

Ele revelou o que houve antes do Dilúvio.

Ele fez grandes viagens, até o limite de suas forças

e quando voltou em paz...

Ele gravou numa estela de pedra a narração de suas proezas

e construiu as muralhas de Uruk, nosso lar,

e as paredes do Templo de Eanna, o sagrado santuário.

[...]

E, sobre o próprio Gilgamesh, diz:


Ele cruzou o oceano, os vastos mares até o sol nascente,

Ele explorou as regiões do mundo, buscando vida.

[...]

Dois terços dele são divinos, um terço é humano.

A grande deusa Aruru fez o modelo do seu corpo,

ela preparou sua forma...

... belo, o mais bonito dos homens,

... perfeito...

Gilgamesh é o pastor de Uruk, o refúgio,

decidido, eminente, conhecedor e sábio.

[...]

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mário Quintana - História quase mágica


O Idiota da Aldeia gostava de coisas brilhantes...
Mal nos respondia: éramos apenas gentes...
Mas uma noite o surpreendi falando longamente a um trinco de porta
Redondo, luzente de luar.
Só vos digo,
Ao que parece,
Que o brilho do metal ora abrandava, ora fulgia mais,
Como se por instantes, ouvisse e depois respondesse.
Só vos digo que, nestes ocultos assuntos, nada se pode dizer....

Minha singela homenagem aos personagens de nossas cidades, que andam por caminhos que nem todos vêem, atravessam pontes, do visível ao invisível, das profundenzas escuras ao mais brilhante sol... nos trazem o fascínio de mundos secretos e, algumas vezes, inesperadamente, nos convidam a entrar em seus mistérios... e tudo, graças a foto do Quinzinho que a Rose descobriu no Face... caminhos digitalizados para acessar memórias profundas... mundos dentro de mundos!

Eclesiastes 7, 16

Não sejas muito justo; nem mais sábio do que é necessário, para que não venhas a ser estúpido.

domingo, 19 de junho de 2011

Rumi - Tu e Eu

Feliz o momento em que nos sentarmos no palácio,
dois corpos, dois semblantes, uma única alma
- tu e eu.

E ao adentrarmos o jardim, as cores da alameda
e a voz dos pássaros nos farão imortais
- tu e eu.

As estrelas do céu virão contemplar-nos
e nós lhe mostraremos a própria lua
-  tu e eu.

Tu  e eu, não mais separados, fundidos em êxtase,
felizes a salvo da fala vulgar
- tu e eu.

As aves celestes de rara plumagem
por inveja perderão o encanto
no lugar em que estaremos a rir
- tu e eu.

Eis a maior das maravilhas: que tu e eu,
sentados aqui neste recanto, estejamos agora
um no Iraque, outro em Khorassan
- tu e eu.


 
Poemas Misticos - Editorial Attar

sábado, 18 de junho de 2011

Luis Ansa - O reino do homem

     "O estudo do homem compreende quatro aspectos. Estes não tem limites rígidos porque, tal como as quatro facetas de uma pirâmide, convergem na direção do conhecimento, e cada uma das faces contém aspectos das outras três, apesar de sua linguagem específica.
     Só a cegueira e a preocupação com a originalidade os apresentam como caminhos desprovidos de relação, ou mesmo, em oposição.
    Esses quatro domínios são a arte, a religião, a ciência e a filosofia, quatro lados da pirâmide evolutíva que podem levar o homem rumo ao conhecimento de sua realidade temporal e de sua realidade intemporal.
     Se a palavra conhecimento tem um significado, este não pode existir senão na unificação de todos os opostos.
     É lá o Reino do homem, onde reinam paz, realização e amor."

O quarto reino - Luis Ansa- Edições Dervish

                                                Uma humilde e sincera homenagem à esse homem maravilhoso,
com quem tive o privilégio  de 
conviver... 
usufruir de sua orientação...
degustar sua sabedoria...
compartilhar sua alegria...
receber seu carinho...
 recentemente  falecido.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mário Quintana

Do Mal e do Bem

Todos têm seu encanto: os santos e os corruptos.
Não há coisa, na vida, inteiramente má.
Tu dizes que a verdade produz frutos...
Já viste as flores que a mentira dá?


Da Arte de Ser Bom

Sê bom. Mas ao coração
Prudência e cautela ajunta.
Quem todo de mel se unta,
Os ursos o lamberão.


Do que Elas Dizem

O que elas dizem nunca tem sentido?
Que importa? Escute-as um momento.
Como quem ouve, entre encantado e distraído,
A voz das águas... o rumor do vento...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Flora Figueiredo - Reza


Tem que haver um espaço
para nós dois
onde caibam nossos amores,
nossos temores,
nossos dilemas.

Tem que haver pra nós
um tema que fale de flores.

Tem que haver uma canção
de versos sofridos,
amargos e doces.

Tem que haver uma oração
que fale de ciúmes,
de saudades, de perdão,
que abençoe os beijos,
os desejos retumbantes
Pra quando declinada
no fim do dia
possa ser a
Ave-Maria dos amantes.

"Preste atenção no vento,
Ouça sua voz."

Provérbio havaiano

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Quem é o seu amante? Jorge Bucay - Psicólogo

" Muitas pessoas tem um amante e outras gostariam de ter um.
Há também as que não tem, e as que tinham e perderam".
Geralmente, são essas últimas que vem ao meu consultório,
para me contar que estão tristes
ou que apresentam sintomas típicos de insônia,
apatia, pessimismo, crises de choro, dores etc.
Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem
perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver
e que não sabem como ocupar seu tempo livre.
Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão
simplesmente perdendo a esperança.
Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios,
onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:
"Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do momento.
Assim, após escutá-las atentamente,
eu lhes digo que não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que
precisam de um
AMANTE!!!
É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho.
Há as que pensam:
"Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas"?!

Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.
Aquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o
seguinte: "AMANTE" é aquilo que nos "apaixona",
é o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono,
é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.
O nosso "AMANTE "
é aquilo que nos mantém distraídos
em relação ao que acontece à nossa volta.
É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.
Às vezes encontramos o nosso "AMANTE"
em nosso parceiro.
Também podemos encontrá-lo
na pesquisa científica ou na literatura,
na música, na política,
no esporte, no trabalho,
na necessidade de transcender espiritualmente,
na boa mesa, no estudo
ou no prazer obsessivo do passatempo predileto....
Enfim,
é "alguém!" ou "algo"
que nos faz "namorar a vida"
e nos afasta do triste destino de
"ir levando"!..
E o que é "ir levando"?
Ir levando é ter medo de viver.
É o vigiar a forma como os outros vivem,
é o se deixar dominar pela pressão,
perambular por consultórios médicos,
tomar remédios multicoloridos,
afastar-se do que é gratificante,
observar decepcionado
cada ruga nova que o
espelho mostra,
é se aborrecer com o calor ou com o frio,
com a umidade,
com o sol ou com a chuva.
Ir levando
é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje,
fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão,
de que talvez possamos realizar algo amanhã.
Por favor, não se contente com "ir levando";

seja também um amante e um protagonista
... DA SUA VIDA!

Acredite:
O trágico não é morrer,
afinal a morte tem boa memória,
e nunca se esqueceu de ninguém.
O trágico é desistir de viver...
Por isso, e sem mais delongas,
procure algo para amar...
A psicologia após estudar muito sobre o tema,
descobriu algo transcendental:

"PARA ESTAR SATISFEITO, ATIVO
E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ,
É PRECISO NAMORAR A VIDA".


Amantes JOÃO WERNER cimento pigmentado

The UMBRELLAS of CHERBOURG - Itzhak Perlman




Adoro sombrinhas.... sair por aí, salpicando água das poças de chuva, na pureza das aventuras infantis... Caminhar lentamente, desfrutando as paisagens...na chuva que convida ao amor, que embala... sob a proteção, o charme, a beleza e o colorido das sombrinhas...

sábado, 11 de junho de 2011

Bachelard

A Realidade do Amor

Que sempre existam almas para as quais o amor seja também o contacto de duas poesias, a convergência de dois devaneios. O amor, enquanto amor, nunca termina de se exprimir e exprime-se tanto melhor quanto mais poeticamente é sonhado. Os devaneios de duas almas solitárias preparam a magia de amar. Um realista da paixão verá aí apenas fórmulas evanescentes. Mas não é menos verdade que as grandes paixões se preparam em grandes devaneios. Mutilamos a realidade do amor quando a separamos de toda a sua irrealidade.
Gaston Bachelard, in ' A Poética do Devaneio'

Drummond

Estampa em Junho

Agora em junho a gente não se enxerga
nítido, no espelho embaciado.
A manhãzinha são nevoeiros
móveis, flocos aspirando
a se tornarem cabrito, padeiro, bicicleta
a um metro de distância.
A fala, brancura de ar. Nem montanha
nem casas em redor.
O tempo suprimiu os estatutos
da vida real. A liberdade
de meus passos fez-se bruma, eu próprio
sou alvo fantasminha divertido.

Experiência de não-ser. Mas sendo para ver.


Boitempo II
Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 10 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Oriath Mountain Dreamer - A dança

"Dançar é se mover com graça. Viver o desejo da nossa alma é estarmos dispostos a viver momentos repletos de graça. A graça é a oportunidade de ser feliz que nos vem gratuitamente - de graça.
Para dançar, para avançar com graça, para receber diariamente momentos cheios de graça, temos que saber que somos dignos, não por causa do nosso esforço árduo, do nosso sofrimento ou de nossa ânsia de ser diferente do que somos; somos dignos pela nossa própria natureza - a mesma natureza que cria e sustenta tudo o que existe. Qaundo sabemos disso, somos capazes de responder à pergunta  "Você deseja ser feliz?" com um "Sim" tranquilo e confiante."

Um período repleto de graça e felicidade é o que amigos e amigas, familiares, seres amados e queridos têm me propicianado. Que nossas vidas sejam cheias de graça! Obrigada, Virginia

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Jung

"O ser humano solitário carece de completude, pois ele só pode atingir a completude através da alma, e a alma não pode existir sem o outro lado, que é encontrado num "Tu". A completude é uma combinação de Eu e Tu, e esses se mostram como partes de uma unidade transcendente, cuja natureza só pode ser captada simbolicamente, como no símbolo do rotundum, da rosa, da roda, ou da conjunctio Solis et Lunae ( o casamento místico do sol e da lua)".

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pérolas do oceano invisível - Inayat Khan

Um rei estava caçando na floresta quando foi surpreendido por uma tempestade. Refugiou-se na cabana de um camponês, que lhe ofereceu uma refeição simples. O rei mostrou-se grato pela refeição. Ao partir perguntou ao camponês se podia fazer alguma coisa por ele. O camponês, ignorando estar na presença do rei, respondeu que suas necessidades eram simples, que tinha tudo que precisava. O rei tirou um anel do dedo, deu-o ao camponês e lhe disse: "Fica com este anel. Se algum dia precisares de alguma coisa basta levar este anel à cidade e mostrá-lo a um oficial pedindo para me ver." Alguns meses mais tarde o reino passou por dias muito difíceis. A fome se alastrou. O camponês estava a beira da inanição. Lembrou-se do anel e foi para a cidade. Mostrou o anel a um oficial. Foi imediatamente levado à presença do rei. Ao chegar viu o rei ajoelhado rezando. Quando o rei acabou de orar levantou-se e perguntou ao camponês o que poderia fazer por ele. O pobre homem estava perplexo ao constatar que o homem que estivera em sua cabana era o seu rei e mais surpreso por vê-lo de joelhos rezando. Perguntou-lhe porque estava naquela postura e o rei respondeu que estava orando a Alá. "Mas, que é Alá?"perguntou o camponês. "Alá", disse o rei, "é aquele que está muito acima de mim, o Rei dos reis. Estou pedindo a ele por minhas necessidades e as do meu povo." Ao ouvir essas palavras o camponês falou: "Se vós que sois rei precisais orar a alguém mais alto que vós, então porque não peço a Ele diretamente ao invés de vos importunar?"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Nasrudin

O uso da lâmpada

_ Sou capaz de ver na escuridão - gabava-se certo dia Nasrudin na casa de chá.
_ Se é assim, por que o vemos algumas noites levando uma lanterna pelas ruas? - indagou um curioso.
_ É só para que os outros não tropecem em mim - disse o mulá.