quinta-feira, 11 de julho de 2013

Rumi

Mundos Infinitos / Rumi

A cada instante a voz do amor nos circunda
E partimos em direção ao céu profundo:
Porque deter-se a olhar ao redor?

Já estivemos antes por esses espaços
E até os anjos nos reconhecem.
Retornemos , ó mestre, que é lá nosso lugar.

Estamos acima das esferas celestes
somos superiores aos próprios anjos.
Além da dualidade, nossa meta é a glória suprema.

[...]
O homem emerge do oceano da alma
Como os pássaros do mar.
Como há de ser a terra seca
O lugar do descanso final
De uma ave nascida nesse mar?

Somos pérolas desse oceano,
A ele pertencemos, cada um de nós;
Seguimos o movimento das ondas
Que se arrastam até a terra
E, então, retornam ao mar.

Eis que surge a última onda
E arremessa o navio do corpo à terra;
E quando essa onda regressa
Naufraga a alma em seu oceano.

Este é o momento da união.


Homenagem ao querido amigo que partiu para a glória suprema....

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Art Nouveau

Alphonse Mucha.  Profetisa.
Alphonse MUCHA, Profetisa, 1896 - Praga, República Tcheca


A imagem veio à mim: 
Sentada a beira do rio, ia colocando, uma à uma, velas acesas sobre folhas que a correnteza se encarregava de levar.
Vejo então do alto, um caminho de luzes que serpenteiam pelo rio, iluminando a noite escura.
Que Deus abençoe e proteja!

"Eu sinto muito, me perdoe, eu sou grata, eu te amo."

sábado, 29 de junho de 2013

BELLINI - São João e São Pedro

Jacopo Bellini. St. John the Evangelist (left); The Apostle Peter (right).

Jacopo BELLINI, S. JOão Evangelista ( à esquerda), o apóstolo Pedro (à direita). 1430. Tempera em madeira. Berlim, Alemanha.
Em homenagem ao meu querido João Pedro.




domingo, 23 de junho de 2013

Reflexão

É com muita satisfação que vejo surgir um movimento coletivo no Brasil, com milhares de pessoas indo às ruas. Estava cansada de ver os interesses individuais sobrepondo-se aos interesses coletivos. Para mim, é isso que vinha acontecendo no Brasil.

Por exemplo:
As pessoas, sentindo-se inseguras, ameaçadas pela falta de segurança nas ruas, isolando-se em condomínios fechados, com altos muros, para proteger-se. E o que aconteceu? Arrastão de roubos em bares e restaurantes, na praia... Ou seja, não há como se esconder.

Se a educação pública está ruim, procurando escolas particulares, com custos altíssimos, para assegurar uma educação melhor para os seus.

Se a saúde pública é deficitária, pagando convênios particulares e com isso esperando contar com um atendimento médico mais adequado. Esperando, pois a realidade mostra que nos mesmos convênios, os médicos são controlados quanto aos pedidos de exames e a espera por atendimento se torna cada vez maior, em consultórios, clínicas e hospitais.

Se os transportes públicos são demorados, quentes e pouco eficientes, comprando seus próprios carros ou motos. E, aumentando enormemente o volume de tráfego nas ruas, produzindo consgestionamentos e a mesma demora da qual se tentou escapar.

Ou seja, não adiantou sobrecarregar-se com despesas que deveriam ou poderiam estar a cargo do estado, do país. Não adiantou buscar rotas individuais alternativas; vivemos em coletividades, somos urbanos. Não adianta nada uma taxa de impostos desmedidos se eles não revertem em benefícios para a população, beneficiando, ao contrário, a classe política em si.

Coloquei no passado pois acredito que percebemos, com esse enorme movimento das pessoas indo para as ruas, que temos poder. O poder de mudar as situações que nos são desfavoráveis. Temos direitos e agora, podemos exigi-los, coletivamente.
Me lembra os Saltimbancos, de Chico Buarque, em 1977
Todos juntos somos fortes /Somos flecha e somos arco
Todos nós no mesmo barco/Não há nada pra temer
- Ao meu lado há um amigo/Que é preciso proteger
Todos juntos somos fortes/Não há nada pra temer

Resta-nos ir em busca de informações de como fazer isso. Um estouro de boiada, descontrolada, não levará a lugar algum. A democracia, o direito de escolher nossos próprios representantes, está consolidada, disponível. Vamos exercê-lo conscientemente. Saber como é empregado o dinheiro arrecadado de todos nós. Pensar coletivamente e assim, garantir uma cidade, um estado e um país melhor para cada um e para todos nós!



sábado, 1 de junho de 2013

Novas postagens em:

www.terapiaestrategicarp.com.br

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Florbela Espanca

Mistério

Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados.

Dos teus pálidos dedos delicados
Uma alada canção palpita e ascende,
Frases que a nossa boca não aprende,
Murmúrios por caminhos desolados.

Pelo meu rosto branco, sempre frio,
Fazes passar o lúgubre arrepio
Das sensações estranhas, dolorosas…

Talvez um dia entenda o teu mistério…
Quando, inerte, na paz do cemitério,
O meu corpo matar a fome às rosas!


Florbela Espanca

quinta-feira, 23 de maio de 2013

René Lalique - Papoula

René Lalique,Pavot,© ADAGP - RMN-Grand Palais (Musée d'Orsay) / René-Gabriel Ojéda
René Lalique (1860-1945)
Pavot
1897
Or, argent, diamants brillantés, émail cloisonné et à jour, translucide mat et opaque brillant
H. 7 ; L. 23,5 ; P. 10,5 cm
Musée d'Orsay



Precioso, leve, divino!

















quarta-feira, 22 de maio de 2013

KLIMT, Gustav - O Frizo de Beethoven

 O friso de Beethoven é uma obra feita por G. Klimt para homenagear Beethoven, considerado o símbolo do artista herói. É uma alegoria sobre a busca da felicidade e divide-se em três painéis: As forças inimigas, A aspiração à felicidade e Alegria, nobre centelha divina. 
Baseada na interpretação que Richard Wagner fez da Nona Sinfonia de Beethoven, a obra pode pode ser vista em Viena, no Palácio do Belvedere Superior. 
A obra final, abaixo, representa o ser humano encontrando o amor puro, simbolizado no beijo final.




Alegria, nobre centelha divina
Coleção Folha, Grandes Mestres da Pintura

sábado, 18 de maio de 2013

André le Nôtre Paisagismo

Numa escala macro o jardim de Versailles se estrutura através de grandes eixos retilíneos onde se distribuem  parterres, espelhos d’água, elementos arquitetônicos. O eixo central atinge cerca de 14 km de comprimento e permite uma visão ampla do território. Esta experiência do olhar que alcança o horizonte longínquo está na base do eixo visual, o mecanismo fundamental de ordenação do conjunto de Versalhes e de muitos outros da arquitetura barroca. Ela se incorporará como um dos mecanismos de ordenação compositiva mais fundamentais da Ecole de Beaux Arts cujas origens remontam precisamente ao reinado de Luis XIV.
O-jardim-de-Versalhes
Numa escala micro, o jardim apresenta uma cenografia arquitetônica e vegetal obcecada pelo detalhe e voltada ao deleite e à provisão de acontecimentos para os convidados do rei (cenas de teatro, terraços, fontes, conjuntos de estátuas, labirinto, espelhos d’água).
jardim-versailles
jardim-tropical-versalles


Extraído de:

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O jovem que não conhecia o medo



Certo dia, uma mulher e seu filho tomavam ar fresco ao cair da tarde, sentados no pátio de sua casa. A casa ficava muito distante do povoado, e quando o sol se pôs e a escuridão da noite envolveu tudo em suas sombras, a mulher disse ao jovem:- Meu filho, vá e feche a porta, pois estou com medo.
- O que é o medo? – Perguntou o rapaz.
- Ora sentir temor – ela respondeu.
Mas a resposta de sua mãe não deixou o jovem satisfeito.
- Não sei o que você quer dizer, mãe. Tenho que experimentar o medo. Vou dar um passeio.
E sem prestar muita atenção aos protestos de sua mãe, adentrou-se na noite, afastando-se da casa. Caminhou até o sopé de uma montanha, onde mais de trinta ladrões se encontravam sentados em volta de uma grande fogueira. O jovem aproximou-se deles e um dos bandidos, que parecia ser o capitão, falou:
- Nem mesmo um pássaro se aventura a voar para esses lados, e nenhuma caravana cruza este caminho. Como você se atreve a aproximar-se de nós?
- Pretendo conhecer o medo. Mostrem-no a mim.
- O medo está aqui, conosco – disse o ladrão.
- Onde? – Perguntou o rapaz.
Então, o ladrão respondeu:
- Pegue este pote, farinha, manteiga e açúcar. Entre nesse cemitério e celebre uma festa com os defuntos.
- Assim farei – respondeu o jovem.
No cemitério acendeu uma fogueira e começou a misturar a farinha, a manteiga e o açúcar. Quando havia terminado, uma enorme mão saiu da terra e fez-se ouvir uma voz:
- Quem é o atrevido?
O rapaz golpeou a mão com sua colher e respondeu:
- Eu que vim celebrar minha festa com os mortos. Volte para onde está teu pé. Agora desapareça!
Ao ouvir esta ofensa, a mão desapareceu e o rapaz, que terminara sua mistura, voltou para perto dos ladrões.
- Então, conheceste o medo? – Perguntaram os ladrões entre risadas.
- Não. Houve apenas uma mão que saiu da terra, pelo visto queria provar a minha sopa; mas levou uma colherada e voltou para o lugar de onde veio.
Os ladrões ficaram assombrados e um deles disse:
- Não muito longe daqui há um casarão abandonado; ali, sem dúvida sentirás medo.
O jovem foi até a casa e entrou; encontrou-se então em um enorme salão completamente vazio e viu, pendurado no teto, um cesto em que havia uma criança chorando. De repente surgiu da escuridão uma jovem, dando voltas nervosamente e olhando com desespero para o cesto pendurado. A donzela aproximou-se do jovem e disse:
- Levanta-me nos seus ombros. A criança está chorando e eu quero niná-lo, mas o cesto está tão alto que assim não o alcançarei.
Ele concordou e a moça se sentou sobre seus ombros. Enquanto balançava a criança, a jovem apertava com os joelhos o pescoço do rapaz. Ele sentiu que ia morrer estrangulado, então deu um salto e a mulher desapareceu, deixando cair no chão um bracelete. O jovem pegou-o e se afastou da casa.
Ao atravessar a rua, um velho judeu que viu o bracelete aproximou-se dele dizendo:
- Este bracelete é meu.
- Não, não é. O bracelete pertence a mim.
O judeu insistiu:
- Ele é minha propriedade.
- Pois vamos até o juiz. Se ele disser que é seu lhe darei. Senão ficarei com ele.
Quando expuseram o caso ao juiz, este setenciou:
- O bracelete será daquele que prove ser seu dono.
Nenhum dos dois pôde fazê-lo, e o juiz guardou a jóia até que comprovassem a quem pertencia.
O rapaz não se esquecera de que havia saído em busca do medo, e que nada do que havia acontecido o fizera senti-lo. Depois de muito caminhar, chegou a uma praia onde viu um barco que naufragava, e gritou:
- Vocês tem medo de se afogar?
E uma voz lhe respondeu:
- Claro que temos medo, como não iriamos ter medo, se estamos a ponto de morrer?
Rapidamente, ele tirou suas roupas e, atirando-se ao mar, nadou até chegar a embarcação.
Outra voz lhe disse:
- Estamos naufragando, como podes perguntar se temos medo?
O jovem amarrou um cabo na cintura e descendeu até às profundezas do oceano. Ali descobriu que a filha do mar estava puxando o barco. Amarrou-a com o cabo e trouxe-a para fora d’água. Chegando à superfície, perguntou-lhe em tom desafiante:
- É isto o medo?
E soltou-a,virando as costas e afastando-se de novo em busca do medo.
Caminhou pela costa e descobriu um grande jardim em frente ao qual havia uma fonte. Três pombos que saltitavam ao seu redor submergiram n’água e ao voltar a sair se converteram em três donzelas que traziam uma mesa com taças para beber. Quando uma delas se dispôs a brindar, as outras duas lhe perguntaram:
- À saúde de quem bebes?
Ela respondeu:
- Bebo a saúde daquele que celebrou sua festa entre os defuntos e não desmaiou quando saiu uma mão da terra.
Quando a segunda ia beber, as outras perguntaram o mesmo, e ela respondeu:
- À saúde daquele que não teve  medo de morrer estrangulado.
Por último, a terceira levantou sua taça e respondeu à pergunta das outras:
- No mar naufragava um barco; um jovem aprisionou a donzela que era culpada e não tremeu. À sua saúde bebo.
O rapaz resolveu falar:
- Eu sou esse jovem.
As donzelas o abraçaram e ele continuou:
- O juiz conserva o bracelete que caiu do braço de uma de vocês. Um velho judeu quis tirá-lo de mim, mas não permiti.
As jovens pegaram sua mão e desceram com ele a uma cova onde havia vários pátios, e em cada pátio uma infinidade de jóias dentro de caixas. Uma das donzelas disse:
- Tome este outro bracelete. Como é igual ao que está com o juiz, podes comprovar que os dois são teus.
Assim fez o rapaz e voltou com os dois braceletes à caverna.
- Não saias nunca do nosso lado! – disseram as donzelas.
- Sinto muito, mas não posso ficar enquanto não saiba o que é o medo.
E despedindo-se delas, seguiu seu caminho.
Logo chegou a um lugar onde se aglomerava uma multidão.
- O que está acontecendo? – perguntou o jovem.
Responderam-lhe que como havia morrido o rei daquele país, iam escolher um sucessor. Para a eleição, soltariam uma pomba que pousaria sobre a cabeça daquele designado pelos céus.
E quando soltaram a pomba, esta foi pousar na cabeça do jovem que não conhecia o medo. Como ele não se considerava digno de aceitar tal honra, soltaram uma nova pomba que, como na vez anterior, pousou na cabeça do jovem. Então o povo começou a gritar: “Você é nosso rei!”.
- Mas se estou em busca do medo! Não posso ser rei! – dizia enquanto era arrastado pela multidão para o palácio.
Finalmente, da janela da sala do trono disse a multidão:
- Aceito ser rei por esta noite, mas amanhã partirei em busca do medo.
Atravessando os aposentos do palácio, chegou a uma sala onde viu alguns homens construindo uma caixão e esquentando água.
Quando terminaram seu trabalho, ele resolveu que dormiria naquele aposento. Encostou o caixão na parede, apagou o fogo com água e começou a dormir.
Quando, de manhã, os homens entraram esperando encontrar o novo rei morto e viram que gozava de perfeita saúde, foram contá-lo a sua sultana, que lhes disse:
- Quando chegar a noite e estiver jantando comigo, coloquem um pardal vivo dentro da sopeira.
Enquanto jantavam, a sultana disse ao rei:
- Levante a tampa da sopeira.
- Não, porque não quero sopa – respondeu.
- Mas eu quero, faça-me este favor.
Tão logo o jovem levantou a tampa, o pássaro saiu voando. Foi tão inesperado o incidente que o rapaz sentiu um fugaz calafrio.
-Viu isto que você acaba de sentir? – disse a sultana. – Pois isso é o medo.
- É só isso? – Perguntou o jovem.
- Você agora já tremeu uma vez, que era o que buscava conseguir; o tremor será maior ou menor, mas já poderá conhecê-lo se voltar a senti-lo – respondeu ela.
Durante quarenta dias, celebrou-se o casamento entre a sultana e o jovem, e este governou com justiça durante muitos anos.

domingo, 12 de maio de 2013

Dia das Mães

Ser mãe é compromisso:
É trabalhoso, dispende energia e tempo disponível e ainda assim, não trocaria esse prazer por nada deste mundo!
Ser mãe transcende as coisas desse mundo...
É divertido, é poder resgatar a própria infância.
E é muito mais do que isso também...
Ganha-se força e sentido sendo mãe:
Mães viram seres de outro mundo para defenderem suas crias.
Mães se reinventam, crescem e aprendem com seus filhos.
Ser mãe é honra, privilégio e benção!


Berthe Morisot.  Hide and Seek.
MORISOT, Berthe - Hide and Seek, 1873- Col. Particular

sábado, 11 de maio de 2013

Rumi


A escuridão oculta a água da vida.

Não te apresses, vasculha o escuro.

Os viajantes noturnos estão plenos de luz;

não te afastes pois da companhia de teus pares.



quinta-feira, 9 de maio de 2013

Nasrudin - O idiota

Um filósofo, tendo marcado um debate com Nasrudin, foi até sua casa na hora combinada e não o encontrou ali. Furioso, pegou um pedaço de carvão e escreveu no portão de Nasrudin:
"IMBECIL".
Assim que chegou e viu isso, o mulla correu até a casa do filósofo.
"Eu tinha esquecido que você viria", disse ele. "Peço desculpas por não estar em casa. Logicamente, lembrei-me do nosso compromisso assim que vi seu nome assinado na minha porta."

Nasrudin - A verdade


Algumas pessoas que admiravam Nasrudin o cercaram e perguntaram:
-"Dizem que as suas histórias estão cheias de verdades e com sentidos ocultos, Nasrudin. Estão mesmo?"

-"Claro que não!" Respondeu Nasrudin.

-"Por que não? Porque você diz isto com tanta convicção?" Perguntaram.

-"Simplesmente porque nunca falei a verdade em toda a minha vida, nem uma vez sequer; e tampouco serei capaz de fazê-lo, um dia." Finalizou Nasrudin.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Nasrudin - A pior memória


Mulla Nasrudin estava reclamando de sua esposa para um amigo.

"Eu não sei o que vou fazer com ela", disse. "Ela tem a pior memória do mundo."

"Você quer dizer que ela esquece tudo?" perguntou seu amigo.

"Não", disse Nasrudin. "Muito pior! Ela se lembra de tudo."

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Alexey Ezhov



Pintor e ilustrador russo, tem trabalhos que valem a pena conferir.
http://alekseiezhov.com/

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Dodecaedro em mandala

Rumi - Gratidão x Cobiça

"O que impede a gratidão é a cobiça. O que quer o homem cobiçoso tenha obtido é inferior ao que havia desejado, e como obteve menos do que havia desejado, ele não pode ser grato. Dessa forma, não pode compreender seu erro, nem ver a imperfeição e a falsidade que oferece. A cobiça é como comer fruta verde, pão não cozido e carne crua. Isso produz inevitavelmente doenças e ingratidão. Quando se sabe que se comeu algo nocivo, é preciso vomitar."

Fihi- Ma- Fihi, O Livro do Interior, Edições Dervish

terça-feira, 23 de abril de 2013

São Jorge

Ficheiro:Icon8.jpg
Museu Cristão Bizantino em Atenas

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Giorgio DI CHIRICO


Giorgio de Chirico. Hector and Andromache.
Giorgio de Chirico. Hector and Andromache. 1917. Oil on canvas. Galleria Nazionale d'Arte Moderna, Rome, Italy.

Nasceu na Grécia e mais tarde mudou-se para Florença e Munique, onde foi enfluenciado pela filosofia de Nietzche e pela arte simbolista de Arnold Bocklin. Em 1910, De Chirico mudou-se para Paris, onde fez contato com Picasso e fez amizade com Guillaume Apollinaire (1880-1918), poeta francês e líder do movimento e vanguardistas rejeitando tradições poéticas em perspectiva, ritmo e linguagem.Em 1917, no hospital militar de Ferrara, de Chirico conheceu um compatriota, também um pintor, Carlo Carrà (1881-1966), e juntos eles fundaram a pintura metafísica. Embora o movimento foi de curta duração, foi talvez o movimento mais original e importante na arte italiana do século 20, e o ponto alto da carreira da pintura de De Chirico. Pintura metafísica de De Chirico foi muito influente sobre os artistas surrealistas, que reconheceram nele a expressão eloquente do inconsciente e sem sentido para que eles se aspirava. 

Na década de 1930, no entanto, de Chirico se mudou para uma forma mais convencional de expressão. Seu grande interesse em arqueologia e história tomou a forma de pinturas neo-barrocas cheias de cavalos, naturezas-mortas e retratos. Os surrealistas, em particular, condenou sua obra posterior. Fonte: ABC Gallery



quarta-feira, 17 de abril de 2013

I CHING sobre a ALEGRIA

A alegria é um estado de ânimo contagiante e, por isso, promove o sucesso.
A verdadeira alegria se baseia na firmeza e força interior, no plano exterior se expressa pela suavidade e gentileza. 

quinta-feira, 11 de abril de 2013


SHAH, Idries
Chercheur de Verité - Buscadores da verdade
Collection Spiritualités Vivants – Éditions Albin Michel
(livre tradução minha)


A avidez em se obstinar

            Era uma vez um homem honesto que nunca abusou de ninguém. Mas ainda que ele fosse tão bom e trabalhador, não tinha tido sucesso na vida.
            Este homem, que se chamava Obstinado, era continuamente traído e explorado, mas isso não o incomodava pois ele sabia que a maldade dos outros não poderia diminuir sua própria retidão, e nisso ele não se enganava.
            Obstinado praticava o bem, a caridade e a generosidade com todos os meios disponíveis, confiante na justiça que – ele estava convencido – não deixaria do coroar sua existência.
            Mas ele não tinha o espírito em paz. Assim ele foi visitar um sufi para pedir-lhe conselho.
            O sufi lhe disse:
            “Irmão, é certo que para aquele que deseja alcançar a realização de si mesmo que a honestidade, o esforço e a bondade sejam de uma importância capital. Mas você tem certeza que você é realmente honesto, que não está, de fato,  compensando sua generosidade pela mesma dose de ganância perniciosa em se obstinar a agir, custe o que custar, de acordo com suas opiniões?”
            O sufi indica-lhe como se observar e se corrigir mas não agradou ao Obstinado, que pudessem tomar sua honestidade por obstinação, e ele concluiu que o sufi tinha se enganado.
            Ele decidiu então visitar o grande santo Musa al-Kazim para que esse lhe mostrasse como modificar o curso de seu destino e as perspectivas de seu desenvolvimento espiritual.
            Ele se colocou à caminho.
            Quando ele atravessava uma região selvagem, o homem de bem encontrou um tigre, extremamente feroz de aparência, que rolava no chão. Quando viu o viajante, o tigre se imobilizou.
            “ Filho de homem, onde você vai?”
            - Infeliz hoje como ontem, incerto quanto ao meu futuro, vou ao encontro do grande santo Musa Al-Kazim para implorar seus conselhos, respondeu Obstinado.
            _ Eu sou Shir, o Tigre, disse a fera, e  te suplico que pergunte ao santo o que eu posso fazer para melhorar meu estado pois  me sinto miserável e sem sorte. Tem alguma coisa que não está bem e eu necessito um parecer autorizado.
             - De bom grado, disse o viajante.
            E ele prosseguiu em seu caminho.
            Um dia ele chegou a beira de um rio. Viu, metade dentro da água metade fora da água, um grande peixe que abria sua boca e depois a fechava.
            O peixe lhe pergunta:
            “Filho do homem, onde você vai?”
            Obstinado conta-lhe tudo.
            “Eu sou Mahi, a Senhora Peixe, diz o peixe. Também não estou bem:  não sei porque, não consigo nadar, e preciso que me socorram. Quando você encontrar o santo, conte-lhe meu problema por favor e peça-lhe um conselho.”
            Obstinado prometeu.
            Nosso peregrino caminhava havia bastante tempo quando viu três homens cavarem, penosamente, um terreno arenoso. Ele parou e perguntou porque eles trabalhavam tão duramente uma terra tão infértil.
            “Nós somos os três filhos de um homem de bem que acaba de morrer, lhe disseram eles. Nosso pai nos deixou esta terra direcionando-nos  a trabalhar nela e é isso que estamos fazendo. Mas tememos que nunca cresça nada de tão desolada ela é.”
            Eles perguntaram ao Obstinado qual era sua missão e ele lhes disse. Suplicaram-lhe então que intercedesse por eles junto ao grande santo afim de que ele os ajudasse a resolver suas dificuldades. Obstinado prometeu de bom coração e retomou seu caminho.
            Enfim, o viajante chegou ao seu destino. O grande mestre, como sempre, falava simplesmente e sem ostentação, para um grande grupo que tinha vindo aprender com ele.
            Quando Obstinado aproximou-se, o santo disse-lhe: “Fale.” Obstinado, após ter-se apresentado, disse:
            “ Vim buscar sua ajuda, mas antes de mais nada, Senhor, preciso pedir sua ajuda em nome de três homens, um peixe e um tigre que eu encontrei durante minha longa peregrinação e em direção dos quais você talvez aceite manifestar sua bondade.”
            O sábio assinalou-lhe que continuasse, e ele expôs as dificuldades que passavam os três homens, o peixe e o animal.
“Tua Presença, terá talvez agora a bondade de autorizar a indigna pessoa que está diante de ti para expor a sua própria condição, afim de que para ele também conselhos e recomendações sejam generosamente fornecidos.”
Musa Al-Khazim o interrompeu:
“Irmão! Tua resposta esta incluída nos conselhos que acabei de dar.”
Obstinado se retorna então, se perguntando como encontrar naquilo que o santo havia dito a solução para seus problemas pessoais.
Ele encontra os três homens que trabalhavam no campo árido e lhes disse:
“Eu consultei o grande santo, e eis o conselho: “Que os três homens cavem exatamente no centro do campo; eles descobrirão um quarto subterrâneo contendo tesouros que retornam à eles. Isso é o que queria dizer o pai quando lhes disse para cavar a terra.”
Obstinado ajuda os três homens a fazerem o que lhes foi indicado e eles não tardaram a encontrar um tesouro inestimável assim como um certo número de instrumentos maravilhosos que permitiam realizar o que se chama comumente de milagres, quer seja ou não para o bem da humanidade.
Os irmão propuseram ao Obstinado que pegasse tudo o que ele quisesse mas ele recusou, dizendo:
“Meus amigos, vocês são bons mas eu apenas cumpri o meu dever! Tudo isso lhes pertence e eu não tenho o direito de cobiçar seus bens. Fiquem em paz!”
Logo a seguir, ele se foi.
Ele encontra Mahi que lhe pergunta o que o grande santo havia recomendado para aliviar seus sofrimentos...
“Senhora peixe! falou Obstinado, graças as suas extraordinárias percepções, Musa al-Khazim suavizou a sorte de três irmãos indigentes revelando-lhes que suas terras escondiam um tesouro. No que concerne a você, eis o conselho que ele deu: “Que batam-lhe sobre o lado esquerdo da cabeça e ela poderá nadar e se jogar na água normalmente.
Mahi pede ao Obstinado para ajudá-la. Ele pega seu bastão e golpeia no lugar que o santo havia indicado.
Quase instantaneamente, Mahi escorrega para a água e se põe a nadar, saltar e brincar com uma alegria sem fim. Depois, dirigindo-se para Obstinado, agradece-lhe entusiasticamente por sua ajuda.
“Mahi, diz, quando eu te bati na cabeça, soltou-se uma espécie de bola, é isso sem dúvida que te desequilibrava...
_ Sim, sim,  disse Mahi, mas isso não me interessa. Tudo o que sei é que fui libertada e que me sinto bem!”
Obstinado insiste:
“Desse lugar da sua cabeça caiu um diamante maior que uma melância. Ele está lá naa margem, pegue-o, senão vão certamente roubá-lo!
            Qual o interesse para mim, que sou um peixe?” disse Mahi. E ela desapareceu rogando por bençãos para seu benfeitor.
            “Minha irmã! grita obstinado. Se eu deixar o diamante aqui vão roubar-lhe.”
            Ele então joga a enorme joia na água, lá onde ele viu desaparecer o peixe.
            Prosseguindo seu caminho, o viajante chega finalmente ao lugar onde se encontrava o tigre aflito. Ele lhe conta suas aventuras e o tigre pergunta o que Musa al-Kazim tinha aconselhado para seu caso pessoal.
            “O santo, disse Obstinado, declarou, palavra por palavra, que para melhorar seu estado, só existe um remédio: devorar um insensato. Faça-o  e você não terá mais aborrecimentos.
            _ Você também não!” rugiu o tigre saltando sobre ele.






domingo, 7 de abril de 2013

Nick Bibby

TOAD II [Bronze]
Nick Bibby, escultura em bronze

sábado, 6 de abril de 2013

Idries Shah - Reflexões


LIBERDADE

“Sempre considerei as alternativas – disse a ovelha – posso mascar ou posso morder”.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Nasrudin - Secar farinha no varal


SECAR A FARINHA NO VARAL

Um vizinho veio pedir emprestado o varal de Nasrudin para estender roupa.
— Sinto muito, mas estou usando-o para secar farinha - Disse Nasrudin.
— Mas como você consegue secar farinha num varal? - Perguntou o vizinho.
— É menos difícil do que se imagina, quando não desejamos emprestá-lo - Esclareceu Nasrudin

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Dicas para o comportamento humano!

O espetáculo dos elefantes!
"Uma ocorrência surpreendente aconteceu na África do Sul. 31 elefantes fizeram uma "Jornada para honrar o Respeito. "
Algo que é maior e mais profundo que a inteligência humana informou aos elefantes que o seu herói, o homem que tinha salvado suas vidas e de muitos outros animais - fez sua transição deste mundo terreno.
Lawrence Anthony (1950-2012), uma lenda na África do Sul e autor de três livros, incluindo o best-seller "O Encantador de Elefantes," resgatou bravamente a vida selvagem e reabilitou elefantes em todo o mundo das atrocidades humanas, incluindo o resgate corajoso de animais no zoologico de Bagdá durante a invasão dos EUA em 2003.
Em 07 de março de 2012 Lawrence Anthony morreu.
Dois dias após a sua morte, os elefantes selvagens apareceram em sua casa liderados por duas matriarcas.
Rebanhos selvagens chegaram separadamente em massa para dizer adeus ao seu amado amigo homem.
Um total de 31 elefantes pacientemente andou mais de 18 quilômetros para chegar a casa do amigo na África do Sul.
Ao testemunhar o espetáculo, os seres humanos ficaram obviamente admirados, não só por causa da inteligência suprema e do tempo preciso em que estes elefantes sentiram a passagem de Lawrence, mas também por causa da profunda memória e emoção que os animais evocaram de forma tão organizada.
Caminhando lentamente - por dias - eles fizeram o seu caminho formando uma fila, um a um, solenemente, de seu habitat na floresta selvagem até sua casa.
A esposa de Lawrence, Françoise, foi especialmente tocada, sabendo que os elefantes não tinham ido a sua casa antes desse dia há mais de 3 anos! Mas ainda assim eles sabiam para onde estavam indo e pareciam saber o por quê deles estarem indo para a casa de Lawrence.
Os elefantes, obviamente, queriam pagar o seu profundo respeito, honrando o amigo humano que salvou suas vidas. Tanto respeito que eles ficaram por 2 dias e 2 noites sem comer nada...!
Depois de honrar Lawrence Anthony, da única maneira que podiam, neste tributo comovente e memorável ao homem que os salvou e à muitos outros animais em todo o mundo, essas criaturas sencientes provaram que elas são mais sábias e mais compassivas do que a raça humana jamais realizará.
Então, uma manhã, eles saíram, fazendo a sua longa jornada de volta para casa..."


Compartilhado da querida Alba....

sábado, 23 de março de 2013

Poemas Rupestres – Manoel de Barros


"Por viver muitos anos
dentro do mato
Moda ave
O menino pegou
um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava
as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
As coisas todas inominadas.
Água não era ainda a palavra água.
Pedra não era ainda a palavra pedra. E tal.
As palavras eram livres de gramáticas e
Podiam ficar em qualquer posição.
Por forma que o menino podia inaugurar.
Podia dar as pedras costumes de flor.
Podia dar ao canto formato de sol.
E, se quisesse caber em um abelha, era só abrir a palavra abelha
e entrar dentro dela.
Como se fosse infância da língua..."

sexta-feira, 22 de março de 2013

Fabrício Carpinejar

Amor é uma injustiça, minha filha.
Uma monstruosidade.
Você mentirá várias vezes que nunca amará ele de novo e sempre amará, absolutamente porque não tem nenhum controle sobre o amor.

quinta-feira, 21 de março de 2013

O beijo do amado - RUMI

O ladrão de corações
deu-me um único beijo e partiu.
O que seria de mim
se me tivesse dado sete?

Todo lábio que o meu amado beija
guarda sempre a sua marca:
rachaduras abertas na ânsia de sugar
a doçura de seus lábios.

Guarda ainda outra marca:
o desejo louco da água da vida
que a cada instante força o amor
a remover mil fogueiras.

E outra marca mais: o corpo,
assim como o coração, desembestado,
corre de encontro ao beijo
para tornar-se leve e delicado
como os lábios do meu amado.

Ah que suavidade inebriante vem
desse amor que desconhece limites!



Poemas Místicos, Attar Editorial

quarta-feira, 20 de março de 2013

Outono


Hai-Kai de Outono

Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?
Mario Quintana


Kant



"Moralidade não é propriamente a doutrina de como nos podemos fazer felizes, mas de como podemos nos tornar dignos da felicidade." 

Immanuel KANT

terça-feira, 19 de março de 2013

S. José

George de La Tour - São José , Museu do Louvre

segunda-feira, 18 de março de 2013

Neruda


Se todos os rios são doces, de onde o mar tira o sal?
Como sabem as estações do ano que devem trocar de camisa?
Por que são tão lentas no inverno e tão agitadas depois?
E como as raízes sabem que devem alçar-se até a luz e saudar o ar com tantas flores e cores?
É sempre a mesma primavera que repete seu papel?
E o outono?... ele chega legalmente ou é uma estação clandestina?

quinta-feira, 14 de março de 2013

Mulheres

 Fernando Botero, bronze, 2006
"... a capacidade de observar - mais do que analisar - está desaparecendo hoje em dia, quando todos querem ser protagonistas. [...] Aqui só se falará de mulheres, de várias delas. Somos todas muito parecidas, muita coisa nos irmana. Seria possível dizer que vou contar uma, duas ou três histórias, mas tanto faz. No fundo, todas temos mais ou menos a mesma história para contar."

Marcela Serrano, Nós que nos amávamos tanto

Jean Auguste Dominique Ingres, La Baigneuse, óleo sobre tela 1808

sábado, 9 de março de 2013

Atitude - Cecília Meireles


Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.



Klimt - Hope I - detalhe

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher

Fico aqui pensando no ser mulher.
Mulher é mistério, mulher é transformação. Ser mulher é ser mil seres dentro de um só. É ampliar o olhar para além de si mesma: é olhar as necessidades do outro, dos filhos, parceiros, amigos, colegas, funcionários, planeta. É gentilmente colocar-se no lugar do outro e obter uma compreensão maior. E ainda saber voltar o olhar para si mesma na hora certa.
É o dom da maternidade, é estado de graça.
Mulher é visionária, sonhadora. Mulher é poesia. Mulher é cor.
Mulher é decisão, é fazer o que precisa ser feito. É superar dores e traumas, é encontrar forças onde nem imaginava que ainda existiam. Mulher é loba defendendo a cria e seus interesses.
Mulher é esperança. Mulher é romantismo e leveza.
Mulher é complexa, mulher é diferentes texturas e sabores, mulher é aromática.
Mulher é profunda. Mulher é ampla, envolvente. Mulher é fluída.
Mulher é troca, companheirismo, cumplicidade.
Mulher é apoio. É o fio, a trama onde a vida é tecida.
Ser mulher é benção, privilégio e alegria!

quarta-feira, 6 de março de 2013

Neruda - Esperemos


Esperemos

Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.


Pablo Neruda




segunda-feira, 4 de março de 2013

Idries Shah


PERFEIÇÃO ORIGINAL
Era amarelo, macio e roliço; as suas linhas, quebradas, e desajeitados os seus movimentos, cheio de sofreguidão, insegurança e fome.
O seu principal desejo era atingir um estado no qual não precisaria de nada nem necessitaria de fazer movimento algum, apresentando ao mundo uma cara rara – suave, uniforme e delicadamente satisfeita.
Não se deu conta de que era um pintainho que queria ser um ovo.

(Idries Shah, “Reflexiones”…)

sábado, 2 de março de 2013

Neruda - Se cada dia cai




Se cada dia cai

Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.

há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.

 Pablo Neruda 



sexta-feira, 1 de março de 2013

Baudelaire


«As ilusões», dizia-me o meu amigo, «talvez sejam em tão grande número quanto as relações dos homens entre si ou entre os homens e as coisas. E, quando a ilusão desaparece, ou seja, quando vemos o ser ou o facto tal como existe fora de nós, experimentamos um sentimento bizarro, metade dele complicada pela lástima da fantasia desaparecida, metade pela surpresa agradável diante da novidade, diante do facto real».

Charles Baudelaire, in 'Pequenos Poemas em Prosa'

Se esvaí tão fácil quanto essa delicada flor...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ocasião - Nasrudin

"O que é destino?", um erudito perguntou a Nasrudin.
"Uma sucessão interminável de eventos entrelaçados, um influenciando o outro."
"Essa resposta é pouco satisfatória. Acredito em causa e efeito."
"Muito bem", disse o Mulá, "veja aquilo." Ele apontou para um cortejo passando na rua.
"Aquele homem está sendo levado para a forca. Será porque alguém deu a ele uma moeda de prata e o capacitou a comprar a faca com que cometeu o assassinato; ou porque alguém o viu fazê-lo; ou porque ninguém o deteve?"

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mulheres

Monica Stewart






“A imagem de reunir-se em comunidade, corresponde a um motivo feminino arquetípico: fiar e tecer, as atividades que envolvem a conjugação de muitos fios individuais na produção de uma unidade coletiva, maior e mais forte.”

 Allan B. CHINEM, A mulher heróica, 1996, Summus Editorial, SP.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Manoel de Barros


A nossa velha casa


Ao ver o abandono da velha casa: o mato a crescer das paredes
Ao ver os desenhos de mofo espalhados nos rebocos carcomidos
Ao ver o mato a subir no fogão, nos retratos, nos armários
E até na bicicleta do menino encostada no batente da casa
Ao ver o musgo e os limos a tomar conta do batente
Ao ver o abandono tão perto de mim que dava até para lamber
Pensei em puxar o alarme
Mas o alarme não funcionou.

A nossa velha casa ficou para os morcegos e os gafanhotos.
E os melões-de-são-caetano que subiram pelas
paredes já estão dando seus frutos vermelhos.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Nasrudin - Sopa de Lágrimas


A mulher do mulla Nasrudin estava muito zangada com ele. Por isso lhe trouxe uma sopa fervendo, e não o avisou de que ele poderia queimar-se ao tomá-la.

Mas ela também estava com fome e, assim que a sopa foi servida, sorveu um gole. Lágrimas de dor verteram de seus olhos. Mas mesmo assim ela ainda esperava que o mulla se queimasse.

-"Minha querida, que aconteceu?" Perguntou Nasrudin.

-"Eu só estava pensando na minha pobre e velha mãe. Quando viva, ela gostava muito desta sopa. Por isso as lágrimas."

Nasrudin então tomou um gole escaldante da própria tigela.

Lágrimas lhe escorreram pelo rosto.

-"Está chorando, Nasrudin?" Perguntou a mulher.

-"Estou! Estou chorando ao pensar que sua velha mãe está morta, pobrezinha! Mas que deixou alguém como você na terra dos vivos." Justificou Nasrudin.






quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Mia Couto - Fui sabendo de mim

Arte Celta

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi
a árvore morta
e soube que mentia

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Funcionamento Cerebral

A Dra Jill Taylor, neurocientista, após ter sofrido um derrame cerebral, 
nos brinda com essa preciosidade: "Todo meu autoconceito se alterava, porque não me percebia 
mais como um indivíduo, uma entidade sólida com limites que me separavam das entidades 
a minha volta. Entendi que, num nível mais elementar, era fluído. É claro que era fluído! Tudo que nos cerca, tudo que nos diz respeito, tudo entre nós, dentro de nós e sobre nós é feito de átomos e
moléculas que vibram no espaço. Embora o ego central do centro da linguagem prefira definir o
 eu como individual e sólido, muitos sabem que somos feitos de trilhões de células, galões de
água, e tudo em nós existe em constante estado de atividade."

Greg Dunn, neurocientista e artista

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cecilia Meireles



"Escuto a chuva batendo nas folhas, pingo a pingo. Mas há um caminho de sol 
entre as nuvens escuras."



sábado, 16 de fevereiro de 2013

Wagner Moura - espetacular!


Depoimento de Wagner Moura - (apesar de transcorrido um tempo, atemporal!)

“Quando estava saindo da cerimônia de entrega do prêmio APCA, há duas semanas em São Paulo, fui abordado por um rapaz meio abobalhado. Ele disse que me amava, chegou a me dar um beijo no rosto e pediu uma entrevista para seu programa de TV no interior. Mesmo estando com o táxi de porta aberta me esperando, achei que seria rude sair andando e negar a entrevista, que de alguma forma poderia ajudar o cara, sei lá, eu sou da época da gentileza, do muito obrigado e do por favor, acredito no ser humano e ainda sou canceriano e baiano, ou seja, um babaca total. Ele me perguntou uma ou duas bobagens, e eu respondi, quando, de repente, apareceu outro apresentador do programa com a mão melecada de gel, passou na minha cabeça e ficou olhando para a câmera rindo. Foi tão surreal que no começo eu não acreditei, depois fui percebendo que estava fazendo parte de um programa de TV, desses que sacaneiam as pessoas. Na hora eu pensei, como qualquer homem que sofre uma agressão, em enfiar a porrada no garoto, mas imediatamente entendi que era isso mesmo que ele queria, e aí bateu uma profunda tristeza com a condição humana, e tudo que consegui foi suspirar algo tipo “que coisa horrível” (o horror, o horror), virar as costas e entrar no carro. Mesmo assim fui perseguido por eles. Não satisfeito, o rapaz abriu a porta do táxi depois que eu entrei, eu tentei fechar de novo, e ele colocou a perna, uma coisa horrorosa, violenta mesmo. Tive vontade de dizer: cara, cê tá louco, me respeita, eu sou um pai de família! Mas fiquei quieto, tipo assalto, em que reagir é pior.

” O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice ”

O táxi foi embora. No caminho, eu pensava no fundo do poço em que chegamos. Meu Deus, será que alguém realmente acha que jogar meleca nos outros é engraçado? Qual será o próximo passo? Tacar cocô nas pessoas? Atingir os incautos com pedaços de pau para o deleite sorridente do telespectador? Compartilho minha indignação porque sei que ela diz respeito a muitos; pessoas públicas ou anônimas, que não compactuam com esse circo de horrores que faz, por exemplo, com que uma emissora de TV passe o dia INTEIRO mostrando imagens da menina Isabella. Estamos nos bestializando, nos idiotizando. O que vai na cabeça de um sujeito que tem como profissão jogar meleca nos outros? É a espetacularização da babaquice. Amigos, a mediocridade é amiga da barbárie! E a coisa tá feia.

” Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência ”

Digo isso com a consciência de quem nunca jogou o jogo bobo da celebridade. Não sou celebridade de nada, sou ator. Entendo que apareço na TV das pessoas e gosto quando alguém vem dizer que curte meu trabalho, assim como deve gostar o jornalista, o médico ou o carpinteiro que ouve um elogio. Gosto de ser conhecido pelo que faço, mas não suporto falta de educação. O preço da fama? Não engulo essa. Tive pai e mãe. Tinham pais esses paparazzi que mataram a princesa Diana? É jornalismo isso? Aliás, dá para ter respeito por um sujeito que fica escondido atrás de uma árvore para fotografar uma criança no parquinho? Dois deles perseguiram uma amiga atriz, grávida de oito meses, por dois quarteirões. Ela passou mal, e os caras continuaram fotografando. Perseguir uma grávida? Ah, mas tá reclamando de quê? Não é famoso? Então agüenta! O que que é isso, gente? Du Moscovis e Lázaro (Ramos) também já escreveram sobre o assunto, e eu acho que tem, sim, que haver alguma reação por parte dos que não estão a fim de alimentar essa palhaçada. Existe, sim, gente inteligente que não dá a mínima para as fofocas das revistas e as baixarias dos programas de TV. Existe, sim, gente que tem outros valores, como meus amigos do MHuD (Movimento Humanos Direitos), que estão preocupados é em combater o trabalho escravo, a prostituição infantil, a violência agrária, os grandes latifúndios, o aquecimento global e a corrupção. Fazer algo de útil com essa vida efêmera, sem nunca abrir mão do bom humor. Há, sim, gente que pensa diferente. E exigimos, no mínimo, não sermos melecados.

No dia seguinte, o rapaz do programa mandou um e-mail para o escritório que me agencia se desculpando por, segundo suas palavras, a “cagada” que havia feito. Isso naturalmente não o impediu de colocar a cagada no ar. Afinal de contas, vai dar mais audiência. E contra a audiência não há argumentos. Será?"

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

La Historia de Mushkil Gusha - El Disipador de Dificultades.



Esta é toda a história de Mushkil Gusha - O dissipador de todas as dificuldades, de quem devemos sempre nos lembrar!
O vídeo fica bem melhor se alterar a qualidade da imagem....
Obrigada!

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guimarães Rosa



"Porque a cabeça da gente é uma só, e as coisas que há e que estão para haver são demais de muitas, muito maiores diferentes, e a gente tem de necessitar de aumentar a cabeça, para o total. Todos os sucedidos acontecendo, o sentir forte da gente - o que produz os ventos. Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura."

Ficheiro:William Turner. Arundel Castle, with Rainbow. c. 1824. Watercolour on paper. British Museum.jpg
William TURNER, Castelo Arundel com Arco-iris, 1824, aquarela, British Museum

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Nasrudin

Entende o que quero dizer?

     Nasrudin estava jogando punhados de migalhas em volta da casa.
     "O que está fazendo?", alguém lhe perguntou.
     "Mantendo os tigres afastados."
      "Mas não existem tigres por essas bandas Nasrudin."
     "Exatamente," respondeu.  "Eficaz, não?"

Extraído de: As façanhas do incomparável Mulá Nasrudin, Idries Shah

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Hellen Cottle


Helen Cottle


http://helencottle.com.au/gallery

É impressionante o que um toque de vermelho é capaz de fazer!

Mário Prata


Recebi da minah querida Rita, bárbaro!

Criado-mudo
(Mario Prata)

Tudo começou quando resolvi me mudar do décimo para o quarto andar, aqui mesmo, neste edifício da Alameda Franca. Um carrinho de supermercado seria o suficiente. Queria fazer lá embaixo um lar, já que isso aqui virou um vício.
Lá no quarto andar, tem quatro apartamentos.
Eu não conhecia ainda os vizinhos quando o fato se deu. Passei o dia levando coisas lá para baixo. Há dois dias faço isso, ajudado pela Cristina.
Uma das últimas viagens e lá ia eu com a Cris ao lado, descendo pelo elevador.
Carregávamos o criado-mudo. O criado-mudo tem uma gavetinha.
Quando a porta se abriu, havia duas famílias esperando. Meus vizinhos.
Pai, mãe, crianças e até uma avó. Foi quando eu estendi o braço para me apresentar como o novo vizinho que tudo aconteceu.
E foi muito rápido. Muito.
Quando eu tirei a mão do movelzinho para cumprimentar aqueles que agora são meus vizinhos, a gavetinha deslizou. Eu ainda tentei uma gingada com o corpo pra ver se evitava a catástrofe, mas não adiantou.
A filha da mãe estava indo para o chão, lisa como quiabo, com tudo dentro.
E não existe nada mais indiscreto que uma gavetinha de criado-mudo de um homem que mora sozinho. Ou mesmo que não more. Ali você vai jogando coisinhas, papéis.
Coisas, enfim.
Coisas que só têm um destino na vida: a gavetinha do criado-mudo.
Entre a danada escapar do móvel e esparramar tudo pelo chão, não devem ter sido nem dois segundos. Mas estes dois segundos foram sofridos.
Neste pedacinho de tempo tentei, em vão, me lembrar do que era que tinha lá dentro e, conseqüentemente, toda a vizinhança ia ver. Além da Cristina.
Não deu outra. A gaveta caiu de quina e tudo voou, de cabeça pra cima, tudo querendo se mostrar.
Há quanto tempo aquilo tudo não via a luz do dia, já que ficavam debaixo do abajur lilás? E não ficou tudo amontoadinho, não. O material se esparramou legal pelo hall.
Diante do que vi no primeiro bater de olhos, a idéia foi pular em cima e cobrir tudo com o corpo até todo mundo sumir dali.
Sim, na gavetinha do criado-mudo a gente joga tudo.
Pelos meus cálculos, devia ter coisas ali dos últimos cinco anos.
Eu não tinha idéia do que é que estava indo para o chão e aos olhos da vizinhança estupefata.
Um pedaço da minha vida estava ali, no chão, sujeito à visitação pública.

Uma vergonha.
E o pior é que não dava para pegar tudo de uma vez. Teve pilha que rolou escada abaixo. Moedinhas rodopiavam sem parar, fazendo aquele barulhinho.
A primeira coisa que a Cristina recolheu foi um par de brincos douradérrimos.
Que não eram dela. E eu não ia explicar ali que eu não tinha a menor idéia de quem foram. Podiam estar ali há cinco, seis anos.
As crianças olharam para três camisinhas e deram-se sorrisos cúmplices.
Não foi bem este o olhar da Cris.
Aquele pequeno despertador com o vidro quebrado. Estava parado às 10h10 do dia 23, sabe-se lá de que mês ou ano. Três edições da Playboy. Velhas. Uma da Tiazinha. Constrangimento.


Pra minha sorte, bem ao lado caiu a História da Filosofia, de I. Khlyabich.
E o livro daquela jovem namorada do Sallinger, do Apanhador no Campo de
Centeio. Amenizou um pouco.
E as camisinhas eram de 98, tava escrito lá.

Limpou um pouco a barra. Um pouco.
Sim, por outro lado, mostrava que desde 98 que eu... Deixa pra lá.
Tinha o menu da minha aula de culinária de março.
Tinha procurado tanto o Guia de Acesso Rápido do celular. Tava lá.
Agora eu ia aprender a apagar os telefones vencidos da caixa.
Meu Deus, o que é aquilo no pé do garoto? Viagra!
E o filho da mãe pegou e mostrou para o pai, que me olhou com pena, com dó: tão jovem...
Tive que dar explicações: - Hehe, é o Jair, que é do 103, psicanalista, amostra grátis...

Cris, com os alheios brincos na mão, escondeu o Viagra. Vexame total.
Mas isso era só o começo da minha vida esparramada no chão de mármore.
- A conta da compra do computador que eu dei para a minha irmã.
- Duas pilhas Duracell que jamais saberemos se estão boas ou já usadas.
Esse problema de pilhas soltas me enlouquece.
- Sabe aquelas moedinhas de orelhão que não funcionam mais? Várias.
- Uma foto minha com a atriz Manoella Teixeira, abraçados na porta do Ritz
(isso foi há dois anos, fui logo explicando).
- Uma cartela de Lexotan, uma de Frontal e uma de Zoloft. Pronto, os vizinhos não teriam mais dúvidas. Um louco deprimido se aproximava.
- Quatro canetas Bic que eu duvido que ainda funcionem.
- Uma capinha de celular que eu comprei há uns quatro anos e não serviu.
- Uma caneta dessas de marcar texto, aquela amarela, sabe? Seca, é claro.
- Um tubo de Redoxon, vencido há várias gripes.

- Um papelzinho com um telefone que jamais saberemos de quem é.
- Um benjamim.
- Um tubo (suspeitíssimo) de Hipoglós.
- Um disquete de computador sem nada escrito nele. O que pode ter aqui?
- Um par de óculos escuros que nunca foram meus.
- Umas cinco ou seis chaves que nunca saberei que portas abrem.
- Um livrinho mandado (e escrito) por um leitor, com o nome Ser Gay é Ser Alegre.
Como explicar isso, de joelhos?
- E, para encerrar o meu derrame, um papel em branco com um beijo de batom
vermelho, bem no meio. Tentei dizer que era da minha afilhada, Maria Shirts, mas não colou.
Fui recolhendo aquilo tudo, aqueles pedaços da minha vida e colocando de novo dentro da gavetinha. E me levantei.
Entramos em silêncio no apartamento, eu certo de que ia começar uma nova vida ali.
Mas logo cheguei à conclusão de que a gente nunca começa nada, a gente continua.
Ajeitei o criado-mudo ao lado da cama.
Fiquei olhando para o indiscreto móvel que eu achava mudo.
Mas que, em dez segundos, contara cinco anos da minha vida.