quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Ora, carambolas!

A varredora de rua juntou as que estavam espalhadas pela calçada. Estreladas. Esquecidas. Desprezadas. Ainda que de uns tempos para cá tenham atingido ares de nobreza, promovidas à decoração de saladas finas, servidas em restaurantes requintados, ainda não pertenciam à elite das frutas.

Não lhe agradavam muito ao paladar. Preferia as pitangas, vermelhas, convidativas, saborosas. Ou mesmo as acerolas, mais ácidas e cheias de nutrientes. Encontrava-as por aí, oferecidas, nas praças e ruas de sua cidade. Mas, nem sempre fora assim. Lembrou-se do seu espanto ao constatar o preço desmedido da carambola Chez Fouchon, uma loja especializada em produtos exóticos. Ah, o que faz a falta: naquele momento, distante de tudo e todos, até a carambola ganhou ares de pura tentação.Vê-la sobre outra mesa, sem tê-la, foi logo o suficiente para querê-la.

Hoje podia deixá-la ali, como tantos outros faziam, num montinho sobre a calçada, a ser recolhida juntamente com o lixo. Em memória aos velhos tempos, recolheu três que estavam sobre o gramado macio e levou-as para aromatizar água.

Escrito por Virginia

Nenhum comentário:

Postar um comentário