Soube outro dia que ela veio de além-mar, muitos mares além. Onde nem o alfabeto é como o conhecemos, onde não basta misturar as letras de um jeito diferente para se ter uma nova língua. Veio de um lugar onde as letras são desenhadas de outra forma, onde os sons se formam em outros lugares da boca, da garganta. Talvez por isso seus olhos tragam mistérios, zonas desconhecidas, apesar de serem claros, de um azul-esverdeado que convida a transparência.
Conheceu-a há tempos atrás, num lugar ao qual nenhuma delas pertencia, de um além-mar próximo. Conviveram somente uma semana, depois do que cada qual retornou à sua origem atual. Moravam distantes uma da outra, ainda que nesses lugares as letras se juntassem da mesma forma, pois era um distante perto.
Encontrou-a algumas poucas vezes no decorrer de décadas. E, a cada vez, encontravam uma na outra ecos das mesmas experiências. A comunicação não era feita de cenas de cotidiano do qual não compartilhavam, era feita de um mistério mais profundo. Rapidamente falavam sobre fatos: perdas, separações, conquistas, realizações. Às vezes, nem mesmo isso. A afinidade se dava em outro nível, como uma brisa, soprando suave e perfumada, permeada por uma profunda e contagiante alegria.
Não conhecia elfos, nem sequer podia acreditar que eles realmente existissem, mas se isso assim fora, ela seria um deles: diáfana, translúcida, praticamente etérea. Feita de uma matéria especial, uma malha fina e resistente, que o vento transporta como transporta as sementes que geram outras vidas. Quem sabe por isso tenha um companheiro tão diferente dela, sólido, grande, como um fio condutor que a mantém ligada à terra pelos fios consistentes do amor.
Por isso encantou-se quando lhe contou sobre seu destino derradeiro, o lugar que escolhera para guardar seu corpo, quando nele vida não mais houvesse: no alto da montanha, perto de pessoas amigas. Escolheu ali, a sombra de uma árvore, de onde se podia avistar todo o vale. Escolheu aqui, onde as letras se misturam de um jeito que se tornou familiar e aconchegante para ela. Tem pessoas que realmente escolhem seu lugar.
escrito por Virginia
Dentro deste mundo há outro mundo impermeável as palavras. Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes, até mesmo as rochas exalam poesia. Para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes. Jalal ud-Din Rumi Neste blog você encontra poesias, textos escolhidos de diversos autores, dicas e alguns textos meus. Um mosaico dos encantos da mandala da vida.
Marcadores
A arte de viver
(51)
Arte
(146)
Cantos de todo canto
(79)
Carlos Drummond de Andrade
(15)
Cecilia Meireles
(4)
cenas do cotidiano
(3)
citações
(1)
Clarissa Pinkola Estés
(18)
Contos de Nasrudin
(39)
Contos e encantos
(40)
Contos sufi
(29)
Deuses e Homens
(1)
Dicas
(38)
Escritos esparsos
(1)
Extratos de sabedoria
(57)
Fazendo a cabeça
(15)
Flora Figueiredo
(2)
Fora de Ordem
(11)
Fotos Pessoais
(6)
Frases
(97)
João Cabral de Melo Neto
(2)
Mario Quintana
(14)
Meus Devaneios
(76)
Neurocencias
(1)
Nós mulheres
(75)
Omar Khayyam
(5)
Os sentidos
(7)
Planeta Terra
(14)
poesia
(197)
poesia e prosa
(84)
Provérbios
(5)
Rir é melhor
(15)
Rituais e mitos
(9)
Rumi
(56)
Símbolos
(26)
Textos
(99)
Universo
(7)
Nenhum comentário:
Postar um comentário