terça-feira, 16 de março de 2010

Tempo e Olfato - Carlos Drummond de Andrade

Que me quer este perfume?
Nem sequer lhe sei o nome.
Sei que me invade a narina
como incenso de novena.
Que me passeia no corpo
como os dedos tangem harpa.
E me devolve ao pretérito
e a um ser de lava, quimérico,
ser que todo se esvaía
pela porta dos sentidos,
e do mundo em que saltava,
qual dum espelho lascivo,
retirava a própria imagem
na pura graça da origem...
Cheiro de boca? de casa?
de maresia? de rosa?
Todo o universo: hipocampo
no mar celeste do Tempo.


Eu continuo encantada com os orgãos dos sentidos e a "milagrosa" capacidade do ser humano de captar o mundo. Cheiros, aromas, odores, repletos de memória, de cores, sensações e sabores dessa incrível viagem que é o viver!

Nenhum comentário:

Postar um comentário